quarta-feira, 22 de maio de 2013
Fragmentos do Livro Metal Invisível
Retrato
Virtual te desnudas
em leves linhas
e reentrâncias fundas.
Desespero
A vida se esvazia
nas palavras,
escapa veloz,
por entre as letras
e sucumbe no ar.
Diálogo sem volta
O velho
"Apresento-me aqui,
sentimento exposto,
sobrancelhas arqueadas,
rugas no rosto,
andar trôpego,
olhar esquecido,
cabelos brancos,
ombros caídos,
sem nada para dizer,
gestos vazios,
pele marmórea,
pés muito frios,
lábios secos,
gengiva desprotegida,
terno surrado,
corcunda altiva."
O tempo
"Quem és?
O velho
"Uma folha escrita,
dobrada pelas mãos das horas."
O Nada
Cavo buracos,
fossas enormes,
livres espaços,
íngremes despedidas,
repletas de vazios.
..................................
Cavo buracos vazios.
Cena I
No vale
a vida
vela
a morte.
Vergam-se
espíritos
à vaga
lembrança
do verso.
A poesia
vulgívaga
comprime-se.
Advém
do vezo
do dia
uma
vertigem
nostálgica.
O Era
Serei resto
amido,
nitrogênio,
átomo,
pó celular,
vento.
Serei só
sombra,
esquecimento.
Ultimo poema
Quando nascerá
o último poema,
o poema-despedida,
aquele que não será lido,
nem falado,
mas se abrirá
como uma ferida?
Fragmentos
A morte descobrindo as palavras
fecha-se e se tranca
num caixão de vento.
A morte reduz-se em palavras.
A morte que conheço
é um substantivo,
é um sentimento.
Algo morre a cada dia
e foge no pó dos sentidos.
Esquife
Os ponteiros do relógio
esquentam os segundos
enquanto na rua passa
num caixão vazio
o cadáver vivo
do momento do frio.
Solidão
O céu branco e a branca pele,
os olhos cinzas e os lábios frios,
e um gemido no imutável espaço,
o relógio a marcar compasso,
no espírito um calafrio.
Penumbra
Rosto na sombra colado,
quem ouve meu grito agudo?
"ninguém", responde-me a sombra
ao lado.
Momento de tensão,
estou louco, lúcido, abismado,
fujo do grito mudo,
mudo em grito calado.
Quem ouve meu grito agudo?
"Ninguém", responde-me a sombra
ao lado.
Silêncio
Não posso falar agora
deixa-me sonhar
entregue ao sono.
Sou respiração contida
no silêncio
vontade adormecida
entre os dedos.
Não posso falar agora,
há um sussurro
de amenidades.
Deixa-me sonhar
que serei breve.
Não posso falar agora
que estou inconsútil
e leve.
Este livro foi lançado em 2003. Carlos Roberto Husek
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Que a vida por inteiro
ResponderExcluirE não somente o sonho, possa ser leve
Que os momentos sejam doces
E que as lágrimas sejam breves
Que a vida por inteiro
ResponderExcluirE não somente o sonho, possa ser leve
Que os momentos sejam doces
E que as lágrimas sejam breves