A palavra solta
ofende e magoa,
flecha que atravessa
um arco de fogo
e se incendeia;
noites acontecem
nos minutos que seguem
e tudo se transforma,
(meus pés pisam
devagar para não
ferir os caminhos)
Sou pedra
sem movimento,
sem espontaneidade,
sem cor,
pedra que medra
em dor.
(meus olhos
acomodam sais
que mortificam
as pálpebras)
Raios entornam
luzes e cicatrizes
e criam entre nuvens,
etéreas raízes,
e sangram veias
de corpos antigos,
onde antes haviam
frases e livros.
(Alijo de mim
sonhos sem fim)
Existem muros caiados
e musgos que afloram
e pisos que escorregam
sinuosamente
para o infinito,
como se ecoassem
em matéria
a concretude
de um grito.
(existem verdades
que nascem
em pétalas macias
ou em espinhos,
e fazem
de sentimentos:
...ninhos)
As semanas passam,
os dias correm,
e as noites trancadas
em suas celas
de sonhos e pesadelos
têm um não sei
latejante
a perfurar o instante
de preocupações
e desvelos.
(apanho de campos
não revelados
flores sem passado)
Andando sobre trilhos
tenho pés machucados
e andarilhos.
Carlos Roberto Husek
Adoecemos de palavras,
que palavras são mortais,
viram armas escravas
de intrigas sepulcrais,
no diz que diz do dia
o vulgo se satisfaz,
e espalham palavras,
palavras são mortais.
Pobres de amorosidade
que só enxergam o jogo
de falar por entrelinhas,
e cultivar pela herdade,
ervas daninhas
e frases inoportunas,
que fecundam sozinhas
um mundo apaixonado
por coisas mesquinhas.
E de tanto maldizer,
e falar por falar,
falam para ofender
e para machucar.
Quem cuida da vida alheia
não cuida de si próprio,
divulga o que não sabe
no incontrolável vício
desse triste ópio,
dar notícias sem lastro,
em exercício diuturno,
de vigiar alheios passos,
atrás de véus escondidos,
assim é a humanidade,
mesquinha e incongruente,
veste-se de palavras,
que se arvoram decentes,
cujos significados
não sabidos,
orgulham os desavisados
e não vividos.
O ópio dos desgraçados,
que ao invés de trabalhar
dedicam-se ao nobre exercício
de simplesmente fofocar.
Carlos Roberto Husek
Quando partir,
partirei pleno,
sabendo que embora
tenha posto os pés na terra,
sempre voltei meus olhos para os céus
e meu coração angustiado de astros
bateu emocionado em todas as aventuras.
Quando partir,
quero deixar marcas no chão das horas,
passos de dança suavemente postos
e no ar o retrato diáfano das mãos
guardando gestos
e o desenho - quem verá? - daqueles
que conterão inconfundíveis notas
de amor, de abraço, de sorriso.
Quando partir,
quem me amou, abraçou e sorriu
sentirá que não fugi de todo
dos meus amigos.
Quando partir,
aqueles que só souberam de mim
na formalidade dos eventos,
não irão, espero, admoestar
meus arrufos humanos
e minhas inseguranças
e meus desejos,
sabedores, por certo,
do frágil sol que possuí
nascido e morto a cada entardecer.
Quando partir,
pequeno e fugaz,
se apiedem os céus dos meus pecados,
e destes fiquem a borda
que não desnatura a essência das coisas.
Quando partir,
saberão os que me conheceram
que em cada olhar ansiei pelo olhar,
que em cada luz ansiei pela luz,
que em cada som ansiei pelo som,
que em cada carinho ansiei pelo carinho,
e só dei o que foi possível dar,
na infinita necessidade de ser.
Quando partir,
em um dia assim como este,
com esta chuva, com estas nuvens,
e esta noite que se fará eterna
tudo se acomodará,
sem que me vejam destituído
da capacidade de dar e receber,
eu que serei pó ou cinza ou um passado
sem começo ou fim,
um ficar esperando o refúgio da terra,
um ir vestido de vento,
um voar para o nada,
batendo asas emprestadas,
como um pássaro cego,
em busca da terra prometida.
Quando partir
sem aviso no dorso do tempo,
sem razão, sem veleidades
e sem sonhos
saberão que tudo não passou
de um simples texto,
crônica sem lastro,
de poucas páginas,
em meio a milhares de escritos
nos volumosos e empoeirados
alfarrábios da vida.
Carlos Roberto Husek
Estava observando o nada,
e o teto me encarava
com sua pintura branca...
Nos retratos alguns rostos
indagavam-me sem palavras
sobre o que fazia...
Conversei com os antepassados
que de suspensórios cogitavam,
sair das fotografias...
Os livros enfileirados
gritavam em suas páginas
textos e textos de modo surdo...
Alguns enfeites, corujas, estatuetas,
símbolos, conjunto de canetas,
não se atreviam falar...
Tesouras dentro das gavetas,
calavam-se tristes
em suas hastes metálicas,
Vi com as pálpebras fechadas
que ressonavam entre paredes
todas minhas formas de vida.
O silêncio de tudo,
me segredava memórias
e estas, sim, dançavam absortas.
Não dormi apreensivo
de que os objetos sem vida
respirassem infinitamente.
Porque estavam vivos
e me olhavam desesperados
para contar que me entendiam.
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As horas passam desfilando
pelos ambientes vazios
como caravanas mudas.
Percebo que tenho mais,
dentro de mim
do que os dias permitem.
Quando me cerco
de gente no trabalho e na vida,
vivo a eloquência das ideias.
E os sentimentos e raciocínios
falam aos meus ouvidos coisas
inexplicáveis...mas, sei o que são.
Carlos Roberto Husek