quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Operário
Um operário
do pensamento.
Construo
o que ora invento.
Um personagem
feito de doçura
e olhos de mel
e um sorriso safado
de quem se perdeu.
Mas este conjunto,
não alberga
impropriedades,
quem se perde
perde-se à toa,
perde-se de verdade.
Na construção
dessa figura,
apenas figura,
a alegria da vida,
nem conquistada,
nem perdida.
Tem pétalas
no caminho
e alguns poucos
espinhos.
Um operário
dessa arquitetura,
assento em sonho
a mocidade.
Moça e idade
que de moça
e velha
tem a mistura,
nas perdidas
ruas
da cidade.
Um ar maroto
e uma brandura.
Um convite
a insensatez.
Insensato seria
quem não se perde
de vez.
Mas perder-se
é só eufemismo,
pois a pintura
se desfaz.
E na porta
do Paraíso.
termina em nuvem
este dia.
Ai, que bom seria,
não acordar jamais.
Carlos Roberto Husek
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Resta
Resta...
Esta é uma palavra
que resta.
Quando tudo se perde,
ainda resta resta.
Quando a vida
não tem significado,
resta.
Quando a loucura evolui,
resta.
Ainda resta resta.
Há um lugar,
um sítio,
um pensar,
para me encontrar,
para te encontrar,
para nos encontrar,
resta,
resta este lugar.
Quando a política
involui,
resta.
Quando a comunicação
cessa,
resta.
Quando a amizade decai,
resta.
Quando a antipatia
sobressai,
resta.
Quando o coração
se fecha,
resta.
Quando os olhares
estão perdidos,
resta.
Quando a ética sucumbe,
resta.
Resta, ainda resta.
Há um espaço,
recôndito,
escuro,
canto, encanto, puro,
resta.
Para fugir de tudo,
fugir do mundo,
resta.
Para amar o impossível,
e ser produtivo
e vagabundo,
resta este lugar,
resta.
Fim de festa,
resta.
Fim de velório,
resta.
Fim do momento,
resta.
Fim da vitória,
resta.
Fim da derrota,
resta.
Fim da vontade,
resta.
Fim da vida,
resta a morte
com sua despedida.
Fim da despedida,
resta o momento
de vida.
Fim de uma fase,
resta outra
em frase.
Fim de um discurso,
resta o que fica.
Fim do começo,
resta o início
do fim.
Fim do fim,
ainda resta o não,
ou a afirmação do sim.
Resta meu abraço,
no meu braço,
os meus olhos,
nos meus olhos,
ainda resta.
Resta uma possibilidade
indefinida,
resta.
Resta recomeçar
de novo,
resta.
Renascer como um ovo
e desabrochar
como uma rosa,
e criar novos espinhos,
e encetar novas prosas,
e viver novos caminhos,
e beijar novos rostos,
e sentir calafrios,
e entregar-se ao consumo,
do carinho oferecido,
pelo desconhecido
que passa,
e suspirar novos tempos,
e entrelaçar dedos virgens,
e criar flores,
e recriar novas raízes.
Resta,
resta,
resta,
ainda resta.
Carlos Roberto Husek.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
A Ilusão da vida
Um deserto
a vida,
a vida desertificada,
uma estrada,
a estrada estratificada,
que termina
em um lago,
àrvores e pássaros,
um oásis
e o nada,
sobre a areia
escaldante.
Eu, peregrino,
chego ávido,
um passo adiante
e tomo a água por vinho.
Enceto novo caminho,
sobre a branca areia
de sóis cheia,
e vem a noite
e impera
e tudo desaparece,
e esfria e esquece.
Areia, sol, noite,
árvores, pássaros, lago,
tudo na alma trago.
É a vida que por vezes
se solidifica
numa estrada deserta,
onde o corpo fica
e alma voa,
...incerta.
Carlos Roberto Husek
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Movimento.. Mo..vi..men..to. M.o .v.i.m.e .n.t.o. Mo..........
Tudo é movimento,
nosso olhar,
sobre as coisas,
sobre a matéria,
sobre a vida,
nosso olhar
é movimento.
A vida...
É movimento.
A morte...
É movimento.
O que parece
estar parado
está em movimento.
Heráclito
descobriu esta
e outras verdades,
tão simples,
tão pouco científica,
tão sem laboratório.
...Tudo é movimento.
Meu coração bate,
minhas veias pulsam,
meus músculos espasmam,
meus dentes rangem,
meu sangue circula,
meus pensamentos
fazem cabriolas,
meus sentimentos,
se exaltam
ou emudecem,
meu silêncio fala,
meu cérebro trabalha
no meu sono,
na madrugada
do meu descanso,
o meu descanso arfa,
meus gestos
procuram tuas mãos,
meus pés abandonam
velhas estradas
e constroem caminhos,
novos caminhos,
e quanto mais
e mais me distancio,
mais me encontro
em encruzilhadas.
A vida...
É movimento.
A morte...
É movimento.
E quando
nos petrificamos,
e quando
nos mineralizamos,
nos destruímos
e nos reconstruímos.
O que resta de nós
não resta, na verdade,
casa-se com outros
átomos,
forma outros conjuntos,
vive em outras esferas,
e no final dos tempos,
comporá outros mundos.
Somos a eternidade.
Não morrerei jamais,
porque consciente
ou inconscientemente
estou em pleno
em infindável,
em impensável,
em infatigável,
em insondável,
em incansável
em contínuo
movimento.
Um poema
é uma ilusão
de parada,
na tela esbranquiçada.
De algum modo
perpetuo
o momento...
Mais nada...
Carlos Roberto Husek
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Motivação
Meu coração
desenterra as cinzas
e estas grudam
na ponta do lápis.
Escrevo pela necessidade
de abortar os mortos.
E os mortos multiplicam-se
com o passar dos anos,
passam-se sem vida
a viver plenamente
na vida que adubam
com seus corpos
desaparecidos,
desaparecidos
com seus olhares,
com suas mãos
que apalpavam
amigas
ou que acenavam
alegres.
Os mortos vivem
longe de seus corpos
ocupando espaços
pela eternidade.
Os vivos, como eu,
morrem,
na companhia
destes vivos,
que se revezam
na ponta do lápis,
no grafite da vida.
A primeira quadra deste pequeno poema é a introdução (Nota) do meu primeiro livo "Metal Invisível", de 2003. De lá para cá crio a vida sobre o que se desfaz. Um eterno contínuo, como ondas de um mar que não teve começo conhecido e nem fim planejado. Carlos Roberto Husek
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