quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Pés andarilhos




A palavra solta
               ofende e magoa,
flecha que atravessa
              um arco de fogo
e se incendeia;
             noites acontecem
 nos minutos que seguem
e tudo se transforma,


   (meus pés pisam

   devagar para não 
   ferir os caminhos)


Sou pedra 

            sem movimento,
sem espontaneidade,
                         sem cor, 
pedra que medra
                          em dor.


   (meus olhos

    acomodam sais
    que mortificam
    as pálpebras)



Raios entornam

          luzes e cicatrizes
e criam entre nuvens,
               etéreas raízes,
e sangram veias
         de corpos antigos,
onde antes haviam
               frases e livros.



    (Alijo de mim

     sonhos sem fim)


Existem muros caiados

   e musgos que afloram
 e pisos que escorregam
                 sinuosamente
para o infinito,
          como se ecoassem
em matéria
                  a concretude
de um grito.


   (existem verdades

      que nascem
  em pétalas macias
    ou em espinhos,
       e fazem
    de sentimentos:
          ...ninhos)


As semanas passam,

              os dias correm,
e as noites trancadas
                em suas celas
de sonhos e pesadelos
             têm um não sei
latejante
      a perfurar o instante
de preocupações
                     e desvelos. 


 (apanho de campos

    não revelados
 flores sem passado)


Andando sobre trilhos

 tenho pés machucados
e andarilhos.




Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. Infelizmente as palavras que mais magoam são ditas por quem amamos, quem confiamos o segredo mais triste e difícil de enfrentar. Nem sempre são proferidas para machucar, mas em função do momento, do medo,da raiva, da incerteza... De qualquer forma, criam feridas que fazem chorar mais por dentro do que por fora, além de aumentar a batalha entre o querer e o impossível.

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