terça-feira, 21 de maio de 2013

Destacando Casimiro de Abreu/outros e algumas considerações


"Minh`alma é triste"
                      Casimiro de Abreu

"Minh`alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia..

Se passa um bote com as velas soltas,
Minh`alma  o segue n`amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.

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Dizem que há gozos no correr dos anos!...
Só eu não sei em que o prazer consiste,
- Pobre ludíbrio de cruédis enganos,
Perdi os risos - a minh`alma é triste.

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Minh`alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!

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Dizem que há gozos no viver d`amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
 - Eu vejo o mundo na estação das flores...
Tudo sorri - mas a minh`alma é triste!

Minh`alma é triste como o grito agudo
das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
longe da práia que julgou tão perto!

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Dizem que há gozos no correr da vida...
Só eu não sei em que o prazer consiste!
- No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores - a minh`alma é triste!."

Casimiro José Marques de Abreu nasceu no Estado do Rio em 1839 e morreu em 1860. Viveu somente 21 anos e o pouco que viveu conseguiu ter uma profundidade de sentimentos concretizados em poemas tidos por ingênuos, românticos, em certo sentido simplórios, mas, no entanto, pela pouca  idade e pela vida que poderia ter pela frente, produziu muito e com altíssimas notas sentimentais. Não é muito do gosto das novas gerações que somente conseguem ver nesta espécie de poesia uma certa alienação romântica, defasada do mundo, alienada e piegas. No entanto, embora não fosse um poeta erudito, cerebral, filosófico (nem poderia, mal saíra da adolescência; naqueles tempos a meninice e a adolescência se prolongavam, e por vezes os sentimentos - hoje tidos como infantis - perduravam nos espíritos mais amadurecidos). Poeta das "Primaveras", da infância, da simplicidade: ("Oh que saudades que eu tenho/ da aurora da minha vida, da minha infância querida/ que os anos não trazem mais"). Por outro lado, a tristeza - seu motivo e vivência, plasmou a alma nacional em diversos poetas, de outras gerações e de outros credos: Castro Alves ("Sinto que vou morrer! Posso, portanto/ A verdade dizer-te santa e nua:/ Não quero mais teu amor! Porém minh`alma/ Aqui, além, mais longe, é sempre tua."); versos feitos para Eugênia Câmara, amor frsustrado; Olavo Bilac (Maldita sejas pelo Ideal perdido!/ Pelo mal que fizeste sem querer!/ pelo amor que morreu sem ter nascido! pelas horas vividas sem prazer!/ Pela tristeza do que eu tenho sido!/ Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..."); Augusto de Lima ("O desejo sem posse é o mal presente./ Se a posse sem desejo é o bem futuro,/ melhor é desejar eternamente!"); Alceu Wamosy ("E a manhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,/ essa estrada sem fim, deserta, imensa, nua,/ podes partir de novo, ó nômade formosa!/ Já não serei tão só, nem irás tão sozinha!/ Há de ficar comigo uma saudade tua.../ Hás de levar contigo uma saudade minha..."). Também foi para a música, para o samba ("Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma rosa amarela, cravada com o nome dela"; "queixo-me às rosas/ mas que bobagem/ as rosas não falam/ as rosas simplesmente exalam o perfume que roubam de ti/Querias ver os meus versos tristonhos (não é este o verso, mas sim a idéia)/ e quem sabe sonhavas meus sonhos/ por fim.""Tristeza não tem fim/ felicidade, sim..."/. Enfim, a alma brasileira, dos românticos aos modernistas e pós-modernista, na poesia, na música, nas artes em geral tem um sentimento de tristeza, de beleza triste, de abandono. E, convenhamos - pelo menos para nós - não dá para fazer poesia em meio ao riso, em meio à total alegria (se é que existe alegria pura, assim como não existe tristeza pura...). Mesmos os versos mais alegres e descompromissados tem um quê de tristeza, porque fazer versos é escrever sobre a vida, sobre o ser humano, e nós somos seres contingentes, circunstanciais, dependentes de nossas relações eivadas de momentos, idiossincráticos, frágeis... Dentro do nosso corpo, entre os seus ossos, entre os seus músculos, esconde-se uma criança que busca viver os papéis que a sociedade escreve no e para o  seu tempo. Não é assim...? A poesia é a janela aberta para o interior de cada um. Carlos Roberto Husek 

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