segunda-feira, 13 de maio de 2013

Olavo Bilac e Freud


"Assombração"

"Conheço um coração, tapera escura,
Casa assombrada, onde andam penitentes
Sombras e ecos de amor, e em que perdura
A saudade presença dos ausentes.

Evadidos da paz da sepultura,
Num talatar de tíbias e de dentes,
Revivem os fantasmas da ternura,
Arrastando sudários e correntes.

Rangem os gonzos no bater das portas,
E os corredores enchem-se de prantos...
Um mundo de avejões do chão se eleva,

Ressuscitado pelas horas mortas:
Frios abraços gemem pelos cantos,
Beijos defuntos fogem pelas treva."

Olavo Bilac conseguiu, como poucos, descrever os sentimentos vivos que vivem em alguns corações quase esquecidos de relacionamentos passados. Pode ser um relacionamento de mãe, de amigos, de amores vários. Uma casa assombrada em que está presente a saudade, além de fantasmas de ternura, "arrastando sudários e correntes", braços frios que "gemem pelos cantos" e "beijos defuntos" que "fogem pelas trevas". É uma morada de sentimentos que deveriam estar enterrados, mas que foram juntados como condôminos num mesmo espaço, sem janelas, sem alimento, sem luz. Alguns deles revoltam-se e buscam ar, outros se conformam, outros ainda, tentam a transformação para saírem daquele cubículo (daquela tapera) renovados para outros sentimentos, outras formas de agir (trabalho,estudo, arte). Todavia, acabam "ressuscitados pelas horas mortas". Freud entendia disso... Carlos Roberto Husek

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