quinta-feira, 11 de abril de 2013

Um pouco de Castro Alves


Vamos às diversas facetas, talvez de um dos nossos maiores poetas, pelo período de vida que viveu (24 anos), pela época (pouco desenvolvida, com um núcleo de excelência para a sociedade brasileira, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco), pelo mal do Século, (a tuberculose), pelo desejo de alcançar a felicidade e a glória e a intuição de que a vida seria curta (doença e morte, desde cedo pressentida a aproximação).

Romântico:

O 'Adeus' de Teresa

"A vez primeira que fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
'Adeus' eu disse-lhe a tremer co`a fala...

E ela, corando, murmurou-me: 'adeus'"

Onde Estás?

"É Meia-Noite...e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento que passa
Por meus cabelos fugaz:
'Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?'
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
'Oh! minh´amante, onde estás/...'"

A Duas Flores

"São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol."

Social/Político

O Navio Negreiro

"Era um sonho dantesco...O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
       Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
       Horrendos a dançar...
.................................................................

Senhor Deus dos desgraçados!
dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura...se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Co`a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!..."

Vozes D`África

"Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu`estrela tu t`escondes
                 Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
                 On de estás, Senhor Deus?..."

Premonitório (doença e Morte)

Mocidade e Morte

"Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh`alma adejar pelo infinito,
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
- Árabe errante, vou dormir à tarde
Á sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer...quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher - camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas,
Minh`alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...

E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: - impossível!'

Eu sinto em mim, o borbulhar do gênio.
vejo além um futuro radiante:
Avante! - brada-me o talento n`alma
E o eco ao longe me repete - avante! -
O futuro...o futuro...no seu seio...
Entre louros e bençãos dorme a glória!
Após - um nome do universo n`alma,
Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária: -
Teu Panteon - a pedra mortuária!
..................................................................

Fora louco esperar! fria rajada
Sinto que do viver me extingue a lampa...
Resta-me agora por futuro - a terra,
Por glória - nada, por amor - a campa.

Adeus! arrasta-me uma voz sombria
Já me foge a razão na noite fria!..."

Castro Alves era só energia, na palavra, no discurso, na vida. Suas palavras são candentes, fortes, arrasadoras, para o  bem e para o mal, para o romantismo, para as mazelas sociais, para a própria doença e a morte próxima. Se tudo isso era, entre os 18 e 24 anos vivendo numa vila (comunidade pequena), sem muitos atratativos, sem os avanços da tecnologia, sem a comunicação que o mundo moderno tem e as grandes possibilidades de conhecer várias culturas e de estudar uma variedade muito grande de assuntos..., o que não seria se chegasse aos 70 anos..! Certamente, caminharia muito mais. Um gênio..!  E nós nos esquecemos, por vezes, de sua existência..! Um povo que produz um Castro Alves ( e tantos outros) deve ter um potencial enorme! Somos (nós os brasileiros) sem ufanismos descabidos, uma possibilidade, não acham? Carlos Roberto Husek.

Um comentário:

  1. E o que nos falta para cortarmos as amarras do dever-ser e deixarmos de ser mera potência, para ocuparmos nosso lugar no mundo enfim?

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