terça-feira, 9 de abril de 2013

Um pouco de Menotti del Picchia e de outros poetas


Dissemos que a Poesia é música, mas também é teatro e de certa forma arte plástica. Os versos podem ter musicalidade (de palavra a palavra faz-se o ritmo), podem ter colorido ( no encontro das palavras pintam-se paisagens, dão-se cores ao vazio, desenham-se figuras humanas e paisagens), podem ser teatro (combinam-se as palavras em monólogos ou diálogos, para dar força e sentido às situações) e podem ter todas essas  características juntas. Quando assim ocorre surge um grande poeta ou no mínimo uma grande poesia.  Alguns exemplos são elucidativos:

Vácuo (Guilherme de Almeida)

"Quis os teus olhos cheios de mistérios
        como dois hemisférios;

e as tuas mãos gesticulando a bençam
        como espirais que incensam; 

e nos teus lábios uma e outra metade
        de uma única verdade;

e tive - ocos na vida ainda mais oca -
        o olhar, o gesto e a boca."


Motivo (Cecília Meireles)

"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada."


Epigrama no. 9 (Cecília Meireles)

"O vento voa,
a noite toda artodoa,
a folha cai.

Haverá mesmo algum pensamento
sobre essa noite? sobre esse vento?
sobre essa folha que cai?"


Acre sabor (Manuel Bandeira)

"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto."


Soneto da Transfiguração (Paulo Bonfim)

"Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velho sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonias."

Carlos Roberto Husek

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