sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sob um céu de vidro


"Sob um céu de vidro - ou quarenta e seis contos e alguns trocados" é o meu livro de contos lançado em 2009. Foi uma boa experiência (não para o leitor). O subtítulo revela exatamente o seu conteúdo: 46 contos, isto é, mais alentados (não muito) duas ou três folhas, na média, e alguns trocados, contos curtos, poucas linhas, em geral.
Embora contos, nele não perdi o viés poético (vivo e penso poesia, além do Direito, por profissão), talvez por costume, desde a infância. Não consigo lembrar quem ou qual o fato, (o motivo) que me aproximou dessa arte ( que em mim não chega a arte, mas assim mesmo insisto). Uma coisa é certa, desde o início me aproximei eletrizado de Castro Alves (por que..?). Quando na escola primária consegui (oito ou nove anos) declamar toda a poesia do Navio Negreiro (embora sem entender muito). De algum modo ela ficou gravada no meu espírito ( talvez, de tanto repetí-la, sozinho, no quarto ou quando chamado a fazer declamações para alguma visita . Depois perdi esta possibilidade teatral e hoje lembro de muitos versos de cor, não só desta poesia, do genial poeta, mas de outros poemas, como a mensagem (espécie de carta) que ele mandou para o seu irmão Guilherme, que também poetava, comparando o poeta a um vulcão, chamado de Chimborazos. A comparação vem na segunda parte da poesia, o gelo que cerca o vulcão (a sociedade indiferente) e as lavas do coração (a vida íntima do poeta - fogo, paixão, tristeza):

A meu irmão Guilherme de Castro Alves

"Na cordilheira altíssima dos Andes
Os Chimborazos solitários, grandes
Ardem naquelas hibernais regiões
Ruge embalde e fumega a solfatera...
É dos lábios sangrentos da cratera
Que a avalanche vacila aos furacões.

A escória rubra com os geleiros brancos
Misturados resvalam pelos flancos
Dos ombros friorentos do vulcão...

.................................................................

Assim, Poeta, é tua vida imensa,
Cerca-te o gelo, a morte, a indiferença...
E são lavas lá dentro o coração."  

Mas, voltemos aos contos e à poesia que neles (em alguns) também se encontra. É o caso, creio, do conto (trocado) de no. 9 (os trocados não têm nomes, só números):

Apaixonada, ela dizia que os olhos dele eram sua vida, seu tudo, seu mundo, sua razão de viver. Olhou-o de soslaio, para ver a impressão que causara. Nada. Nenhuma palavra saiu de sua boca. Seus lábios permaneceram fechados. Seu rosto impassível, os braços pendentes. Não se ouvia sua respiração. Assim mesmo ela o beijou, beijou, beijou, e o abraçou, cheia de vida e de carinho. Depois, aconchegou-o ao peito. Era noite. levou-o para a cama. Cobriu-o com o corbetor e adormeceu. O ursinho de pelúcia continuava frio e calculista.

Como se vê, não é um conto (miniconto, talvez!), não é uma crônica, não é uma novela, não é uma poesia, não é nada..! Mas, tem um pouco de poesia. Carlos Roberto Husek.

Um comentário:

  1. É a inspiração de um espírito poético. É um belo dom Carlos. Continue a nos deleitar com poesias pois o mundo carece delas. Sucesso sempre!
    Cecília

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