sexta-feira, 5 de abril de 2013

Um pouco de Mário Quintana


Trata-se de um poeta diferenciado - todo verdadeiro poeta o é - cuja sensibilidade é traduzida em versos simples, irônicos, ingênuos, leves, aforismáticos, e ao mesmo tempo repletos de verdades:

Soneto

"Recordo ainda...E nada mais importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui...Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino...acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!..."

Da Discrição

"Não te abras com teu amigo
que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também."

Do Estilo

"Fere de leve a frase...E esquece...Nada
             Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes ditas."

Da Felicidade

"Quantas vezes a gente, em busca da  ventura,
Procede tal qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
      Tendo-os na ponta do nariz!

Do Amoroso Esquecimento

"Eu, agora...que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"

Não resisto em tentar criar alguns poemas no mesmo estilo, simples e melancólicos (trata-se de mero exercício), embora sem a leveza infantil do poeta, porque, agora, neste momento, estou levemente envelhecido:

As ruas da minha infância,
não desapareceram...Eu sei!
Lembra uma esquecida criança
no ancião em que me tornei.

............................................

Quando eu me for, sem alarde,
somente hão de saber os vizinhos.
Talvez, ocorra num fim de tarde,
com o sol morrendo devagarinho.

..................................................

O gesto e a palavra,
pode haver maior discrepância!
Um destrói, outro lavra,
desde a mais tenra infância.

O ser humano é assim: ardiloso,
fala, não pensa; pensa, não fala.
Mostra-se afável, amoroso,
embora em ponto de bala.

Aí estão meus despretensiosos versinhos, à moda de Quintana. Carlos Roberto Husek.

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