segunda-feira, 22 de abril de 2013

Continuando o nada do nada


Esta é uma radiografia
                     do nada.
Em que se enxergam os corpos
        já endurecidos e frios,
pela morte.

A vida nada tem a haver
com o corpo físico.
Está além, muito além.
Lá no fundo dos olhos,
dos olhos de uma criança,
dos olhos de um jovem,
      observa-se;
quem for um privilegiado
        observador,
a verdade.

A  verdade estampada, presa,
no fundo da íris,
a verdade estampada, presa,
no fundo do corpo,
a verdade estampada, presa,
no fundo da célula,
a verdade estampada, presa,
no fundo de cada camada
                          de pele,
a verdade estampada, presa,
entre os tecidos moles,
a verdade estampada, presa,
entre os ossos,
a verdade estampada, presa,
no sangue que circula,
a verdade estampada, presa,
entre as sinapses do cérebro,
a verdade estampada, presa,
nos interstícios faiscantes
                    dos neurônios,
a verdade estampada, presa,
entre os olhos, janelas,
e o mundo que deles se vê,
a verdade estampada, presa,
no citoplasma, no miocôndrio,
no íntimo de toda matéria,
        que se deduz no nada.
Por mais que se reparta
e se biparta, e se fatie
    o corpo,
e se triturem seus ossos,
e se triturem seus músculos,
e se dividam e subdividam
                   suas partes,
quando restar
uma imperceptível sobra,
ali, no pó, no mineral,
                        na réstia,
do que foi tido como vida,
                 haverá um nada...
................................................
Situamo-nos em algum lugar?
Não sou este coração que pulsa,
não sou este figado que produz
                                      enzimas,
não sou este estômago 
que digere os alimentos,
não sou este pulmão
que absorve e expele o ar,
não sou estas pernas
         que andam apressadas,
não sou estes braços e mãos,
que seguram os pesos,
não sou este cabelo,
              este bigode,
              esta gravata.
...O que sou?
Por ora, o conjunto de tudo,
 e por certo o que está no âmago
                  das coisas.
Uma verdade desconhecida.
      ignorada, perdida
entre as camadas ilusórias
      de variadas histórias.
................................................
Aqui, apresento-me: Solrac,
ou um representante
          da representação
que represento,
          na procuração
que me foi dada.
                
Carlos Roberto Husek


2 comentários:

  1. E alma, onde fica?
    Ou o espírito, se preferir
    Em meio a tanta matéria física
    Como pode o etéreo persistir?

    E é ai, justamente, onde reside a beleza e a fortaleza de Solrac, não?

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  2. A verdade é que somos finitos e não gostamos de lembrar disso. Acredito que o maior tabu, hoje, é a Morte.
    Penso que ter consciência de nossa finitude, faz com que re signifiquemos a Vida!

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