domingo, 13 de janeiro de 2013

Poesia em Portugal


(Destaque para Camões "Soneto")

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto,

E, afora este mudar-se a cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não muda já como soía."

Este soneto de Camões afirma a instabilidade do mundo, a instabilidade de nós, a instabilidade da própria instabilidade, como está claro no verso final. A vida é uma passagem e contínua mudança. Nada é como foi e não será como é. Mudam-se os tempos: vontade, confiança, novas qualidades, males, lembranças, saudades, o verde e depois a neve, o choro e depois o canto, a mudança de cada dia e a mudança da própria mudança.

Em homenagem à instabilidade tão bem revelada por Camões, arriscamos uma poesia de momento, instável e imperfeita, como deve ser:

Somos agora,
compostos do que somos,
e já construindo o que seremos.
Não somos os mesmos,
e ao mesmo tempo,
somos únicos no que somos,
por tudo o que nos antecedeu,
mas, a instabilidade
              dos segundos,
nos torna previsíveis,
e no que somos, chorosos,
e no que somos, risíveis.
Nossa inconsistência,
gelatinosa, flexível,
é o que nos torna perenes, 
nesta vida que é momento.
Somos alegria,
somos esperança,
somos lamento.
.........................................
Indisfarçavelmente,
sem o ser
é que somos,
....................................
                     realmente.

Carlos Roberto Husek

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