quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que é um poeta


A poesia de Manoel de Barros "Disfunção" revela bem o que não se define:

"Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1 - Aceitação  da inércia para dar movimento às palavras.
2 - Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 - Percepção de contiguidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 - Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 - Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 - Mania da dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 - Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância aos passartinhos do que aos senadores."

É isso Não sou um poeta completo, mas tenho mania de comparecer aos próprios desencontros, bem como pela inércia movimento palavras e tenho um certo apego pelos seres sem importância. Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. Completo ou não... Não seria bem o caso... Já que a coragem para o desencontro, movida pela inércia do movimento das palavras, comprova o apego pelos seres sem importância, que dá tom ao viver do mundo! Assim, como existir o mundo sem o poeta todo ou o parte poeta e seu trabalho? Trabalho, esse, que viaja, transporta, carrega, induz, confunde, judia e afaga? Pois bem, ressalta-se os ensinamentos de Manoel de Barros sobre o assunto: "Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho
    1 abridor de amanhecer
    1 prego que farfalha
    1 encolhedor de rios -e
    1 esticador de horizontes
    (Manoel de Barros- O livro das ignorãças)
    (J.R)

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