quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Destacando Paulo Bomfim


Soneto II (1959)

"O livro que hoje escrevo foi escrito
Em outro plano estático e diverso,
Sei que morro no fim de cada verso
E renasço no início de outro mito.

Em cada letra tinta do infinito
Há um diálogo mudo que converso
Com nebulosas de meu universo
Onde nasceu a página que dito.

Sei que sou triste neste instante o que já fui,
E aquilo que recebo agora flui
De um campo superior onde me deito.

Durmo além, nessa plaga que recordo:
Só escrevo neste plano onde hoje acordo,
Aquilo que ainda sonho no outro leito."

Sonetista, um dos melhores da lingua portuguesa, nascido em São Paulo a 30 de setembro de 1926, continua a pensar e respirar poesia nos dias atuais.  seu primeiro livro foi "Antonio Triste "(1947). Entre outros publicou  "50 anos de poesia" (1998) "O lIvro de sonetos" (2006), sempre primando pelo verso trabalhado e pelas imagens delicadas e ricas.

Da Chegada (do Livro Práia de Sonetos - 1981)

"Quando chegares e eu já for ausência,
Pensamento estrangeiro em tua fronte,
Brisa de paz que se transforma em fonte,
Ou simples intuição sem permanência;

Pressente-me na chuva da inclemência,
Nas aves desgarradas do horizonte,
Nas alegrias construindo a ponte
Por onde há de voltar toda inocência.

Quando chegares nas manhãs de olvido,
Invoca-me no fundo de tua alma
Dentro de um credo estranho e perseguido;

Que a morte há de soltar da garra adunca
Este que sou agora em tarde calma,
Um sempre que renasce sobre o nunca!"

Este é um príncipe dos poetas. Atual, atualizado, romântico e embora conhecido, ora pouco falado. Pena! Nos dias de "olvido", vem esquecido, embora consagrado.
Em sua homengagem, pois, reescrevo:

Príncipe dos poetas,
atual, atualizado,
embora conhecido,
pouco falado,
nos dias de olvido,
vem esquecido,
embora consagrado,
eu que sou Carlos,
mais nada,
não me fiz esquecer,
respiro nos seus sonetos
o que não consigo ser.

Carlos Roberto Husek

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