quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um pouco de nós: seres humanos


Já o dissemos. Os poetas têm antenas que captam situações da vida, independentemente do tempo. As pessoas são iguais, independentemente da época em que vivem. A raça humana parece confirmar virtudes e defeitos ao longo dos séculos. Será que só progredimos tecnologicamente? Temo que sim. A conhecida poesia de Raimundo Correia (1860/1911), poeta parnasiano, parece ter sido feita ontem:

"Mal Secreto"

"Se a cólera que espuma, a dor que mora
N´alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse  o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!"

Penso que às vezes devemos entrar no nosso próprio templo (cada um de nós tem uma passagem secreta) e quebrar tudo, para começar tudo de novo. Que o diga Augusto dos Anjos (1884/1914) pré-modernista que embora usasse palavras rebuscadas conseguia no conjunto do poema fazer entender a sua mensagem:

"Vandalismo"

"Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longíguas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vestem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!"


Ficamos por vezes fazendo loas às nossas próprias ilusões (Quem somos? O que construímos? Qual a nossa verdadeira face?) Acho que podemos, talvez, em algum dia calmo, entrar no templo que edificamos e cujo altar tem nosso próprio busto (deus de nós mesmos), e providenciar "erguendo os gládios e brandindo as hastas" uma quebra geral. O que restará? Que o diga Freud!  Carlos Roberto Husek.

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