Rua Vinicius de Moraes entre Ipanema e Copacabana, onde o poeta bebia o seu uisque e criava poemas que se tornaram famosos e foram musicados. O "poetinha", apelido carinhoso para quem era realmente grande, viveu pouco, (66 anos), embora com muita intensidade, pois amou as mulheres possíveis de serem amadas (ou de se deixarem amar). O amor não é só sexo, o amor não é falta de sexo, o amor não é só romantismo, o amor não é falta de romantismo. O amor é poesia. É tudo! Há aquelas (aqueles) que não se deixam amar, porque buscam do amor apenas uma de suas facetas. A entrega pressupõe uma totalidade - cor e magia - que tornam a vida especial. Na verdade, as pessoas estão, hoje em dia ( em geral), pobres de sentimentos, pobres de interesses, pobres de vida. Desconfiadas, impossibilitadas de entrega total, inimigas de si mesmas e das demais, antes concorrentes do que parceiras. Há uma guerra entre homens, entre mulheres, entre homens e mulheres. O mundo é uma disputa, uma pendenga, uma batalha, um conquistar (posições, dinheiro, mandos), enfim, uma pobreza! O colorido se perde no cinza que indiretamente produzimos. Vinicius e outros (poetas ou não) bucaram e buscam o espaço. "Ando a procura de espaço/ para o desenho da vida/ em números me embaraço/ e perco sempre a medida." (Cecília Meirelles)
Soneto da Fidelidade
"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure."
Soneto da Madrugada
"Pensar que já vivi à sombra escura
Desse ideal de dor, triste ideal
Que acima das paixões do bem e do mal
Colocava a paixão da crfiatura!
Pensar que essa paixão, flor de amargura
Foi uma desventura sem igual
Uma incapacidade de ternura
Nunca simples e nunca natural!
Pensar que a vida se houve de tal sorte
Com tal zelo e tal íntimo sentido
Que em mim a vida renasceu da morte!
Hoje me libertei, povo oprimido
E por ti viverei meu ódio forte
Neste misterioso amor perdido."
Soneto do M|aior Amor
"Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
mais da eterna aventura em quem persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
ferir e fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo."
É isso. Carlos Roberto Husek
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