quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Latipac - A cidade e seus espelhos


Londres


(destacando John Milton/ Paraíso Perdido)

"Perdidos, Adão e Eva
      ouviram a serpente,
cobiçaram a maçã,
      a fruta comeram,
que caía saborosa ao lado,
e disso nasceu o fruto,
desarmonioso e bruto
      do pecado."


(destacando George Gordon Byron/Trevas)

'"Tombavam, desfaziam-se
- e estralando os troncos,
Findavam num estrondo
- e tudo era negror.'"

"Morreu cedo, e sempre tarde,
que todo poeta na pira arde,
de uma essencialidade,
de uma humanidade infeliz."

Com sempre, o que transcrevo em negrito são versos do próprio poeta, no caso Byron, que incorporei na minha poesia ao falar sobre Londres.


Tóquio

(destacando Basho)

"Basho triste canta,
nos seus haicais,
'" folhas tremulam
No campo queimado
À espera da lua'".
O som sobe o vulcão
de neve derretida,
e petrifica-se."
"

O transcrito em negrito são versos de Basho, em poema composto no templo de Kashima. A poesia japonesa tem a delicadeza do olhar, e, principalmente os haicais, revelam em poucas palavras e versos simples a profundidade da paisagem ou do sentimento. As folhas tremulam no campo queimado à espera da lua é de beleza impar. Só um poeta ( e um poeta japonês, versejando em haicais) poderia em poucos vocábulos situar o campo de visão - campo queimado - folhas que têm vida - folhas tremulam - esperando a Lua. Quem pode esperar a lua em um campo queimado? Nós, humanos, poderíamos fazê-lo, e talvez o façamos, no mais simplório dos mortais, que solitário e esquecido e lutando com e contra a vida, tira o seu sustento da terra, longe dos grandes centros e espera ao final do dia o céu estrelado e a Lua. Os citadinos não desconfiam que exista essa vida, esse olhar, essa possibilidade. A humanidade aí se encontra na figura solitária do ser humano e/ou das folhas trêmulas, ou, como o nosso Mário Quintano, que disse em alguma prosa poética: " Fumar é um jeito discreto de ir queimando as ilusões perdidas.", ou, ainda, "O verdadeiro poeta faz poesia com as coisas mais simples e corriqueeiras deste e dos outros mundos."  
Até mais. Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. "Milagre de inverno agora é ouro a água das laranjas"
    "Luxo saber além das telhas um céu de estrelas"
    "Verde a árvore caída vira amarelo a última vez na vida"
    "No espelho de relance a cor do sonho de ontem"
    "Na rua sem resistir me chamam torno a existir"
    Todos de Paulo Leminsk do livro Toda Poesia da Companhia das Letras

    ResponderExcluir