domingo, 21 de outubro de 2012

Latipac - A cidade e seus espelhos


Nova Iorque

(destacando Edgard A. Poe, versos grifados de O Corvo)

'"Nunca , nunca,
           nunca mais'
disse o corvo, cabeça lisa,
corpo preto, olhos negros,
no quarto de Poe,
como somente soem
ser os corvos anunciantes,
de verdades delirantes,
à meia-noite na madrugada,
após a brisa desperta,
com dois toques vagabundos,
assustando quem dormia,
com esta sinfonia de duas notas,
e uns olhos fixos e profundos,"

(destacando Walt Whitman, versos grifados de Folhas de Relva)

'"A fisiologia, o que vai da cabeça
          aos pés, eu canto.
O homem moderno eu canto'
E de tanto cantar-se a si mesmo,
     cantou-se no seu encanto,
a barba branca emplumada
     de sabedoria e espanto,
de tanto cantar-se a si mesmo,
     encantou-se no entanto,
de barba branca emplumada,
     no rosto a marca do pranto,
     no rosto a marca da vida,
     no rosto as folhas secas,
                           caídas,
     no rosto as folhas de relva,
                           perdida,
     no rosto luz e sombra,
                           aquecidas,
     no rosto a marca do tempo,
               arrependida,
               visualizada,
               querida,
     coberta com o musgo
das folhas enverdecidas."

(destacando Emily Dickinson, versos grifados de Poemas)

'"Morre a palavra
Quando é falada,
       Dirão.
Digo:- Só então
Ela começa a 
             Viver'.
É a palavra o veículo
    que leva em seu bojo,
o significado social,
de que vem embuída,
e o seu significado pessoal
que o interlocutor
           mal desconfia."

(destacando Edward E. Cumming, versos grifados de XIX Poemas)

'"assim a razão
         venceu o instinto e
a matéria se tornou
         escrava do espírito;
assim a virtude
         triunfou sobre o vício.'

(destacando Thomas S. Eliot, verso grifados de A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock)

'"Sigamos então, tu e eu,
Enquanto o poente
no céu se estende,
como um paciente
anestesiado sobre a mesa.'
Este binômio eficiente,
que encerra o mundo todo,
no universo de dois,
e deixa o fim dos tempos
para um tempo depois."

Nova Iorque teve estes e outros poetas. A cidade do mundo, a cidade de pedra, a cidade de espelhos, a cidade dos automóveis, a cidade das lojas, a cidade dos restaurantes, a cidade das luzes, a cidade dos pedestres, a cidade dos extremos, a cidade das quadras, a cidade dos ícones, contém vielas solitárias, ruelas inexpressivas, homens e mulheres comuns, pobres e sofridos, e cachorros abandonados e crianças que buscam na imaginação outras realidades e vários e vários estrangeiros em passos perdidos. Carlos Roberto Husek.

Um comentário:

  1. Que maravilha de blog Dr. Husek. Tenho certeza de será mais um de seus sucessos. Afinal, quem nasce para brilhar não se intimida com a opacidade da existência. Ao contrário, diverte-se em descortiná-la a cada dia!

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