sábado, 20 de outubro de 2012

Latipac - A cidade e seus espelhos


Santiago/Isla Negra

(destacando Pablo Neruda, versos grifados, em Canto Geral)


'"Eu quero terra, fogo, pão,
                     açucar, farinha,
mar, livros, pátria para todos,
          por isso ando errante.'
Fustigou contra as ditaduras
e acariciou o povo pobre,
que nisso aproximou-se de Hugo
embora com outra têmpera
embora com outra vontade.
Restou Santiago,
   pela conquista de valdívia,
   a serviço de Pizarro asfixiando
                a revolta indígena,
   cruzando os vales de Copiapó
                           e Coquinho,
e de posse de Mapocho,
criou a cidade e seus arredores.
Hoje resta de sua gênese,
de seu rio, de suas nevadas,
de seus Nerudas e de suas estradas,
uma cidade motorizada,
de gigantescas torres de pedra,
de profusões de solos amestrados,
de jardinagem em cada morada,
de uma coleante e viva fila
de mulheres e homens,
         em busca da moeda,
em busca da conquista,
em busca da excelência,
          gerencial, administrativa,
uma cidade igual às outras,
a Latipac esfriada pelos andinos."


Pablo Neruda, chileno, poeta, diplomata, universal, mas sua poesia tinha o gosto da terra de seus amores, da terra que o viu nascer, de sua natureza, e riqueza de suaa comunicação descritiva e poética, que pode ser sentida e entendida pelos diversos povos, porque, afinal, somos todos herdeiros dos mesmos átomos, espalhados pelo planeta:
"Escrevo para uma terra recém-secada, recém-
fresca de flores, de pólen, de argamassa,
escrevo para umas crateras cujas cúpulas de giz
repetem seu redondo vazio junto à neve pura,
opino de imediato para o que apenas
leva o vapor ferruginoso recém-saído do abismo,
falo para as pradarias que não conhecem nome
além da pequena campânula do líquem ou o estame queimado
ou a áspera mata onde se inflama a água."

Isto é Neruda. A poesia escorre pelas veias, pelos olhos, pelo coração, pela pele. Somente um poeta pode escrever para as pradarias que não conhecem nome e para uma áspera mata onde se inflama a água. Carlos Roberto Husek

2 comentários:

  1. Neruda é, também, lapislazuli, pedra que adorava e cuja beleza nem mesmo a pasteurização moderna conseguiu diminuir o brilho. Grata surpresa a sintonia entre o pequeno presente e o grande presenteado. Obrigada por compartilhar as palavras.

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  2. Como diria João Cabral de Mello Neto este Neruda é um desabrido!

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