quarta-feira, 27 de março de 2013

Economia de palavras e de versos/Haicais


Fico tentado a escrever versos curtos, cada vez mais, como os postados anteriormente, uma vez que seria uma forma de tentar economizar as palavras, embora buscando dar maior significado e amplitude ao pensamento. Esta arte é própria, no meu modo de ver, dos orientais, não só na escrita, mas também nas artes plásticas, principalmente, em relação aos traços (economia de traços), quando, por exemplo, os japoneses desenham de forma delicada as cerejeiras (amarelas, rosadas), sem necessidade de encher a tela, de modo detalhado. Também, o desenho das letras (não me lembro o nome da arte): o cuidado em fazer a curva, em passar a tinta com o pincel na cartolina (ou qualquer outra espécie de papel) branca.
Na poesia são exemplos característicos os haikais ou haicais: uma forma de canto, de poucos versos e de poucas palavras. A lógica (se é que poesia necessita ter lógica) do poema está no encadeamento das partes do poema por imagens, que devem ser sentidas mais do que entendidas.
Bashô foi um dos grandes poetas do Japão. Podemos descobrir nas suas imagens e de seus seguidores, uma nota alta de sensibilidade; por vezes, de fina ironia, filosofia, humor. O importante é ler com calma, verso por verso, "degustando" as palavras. O sentido, a mensagem surgirá como por encanto.Vejamos:

Sensibilidade

"A primavera está chegando:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã."
              (de Bashô)

"Mar de primavera -
O dia todo
Lentamente ondula."
         (de Buson)

"Ah, o orvalho da manhã -
Completamente invisível
Sobre as flores brancas."
           (de Kakei)

"há dias em que penso
ser minha linguagem,
talvez, a do vento."
            (Ishikawa)

"Puxei conversa em vão
e abracei a lágrima
do paciente vizinho."
            (Ishikawa)

Humor

"De tanto contemplar
As cerejeiras em flor
Doem-me os ossos da nuca."
             (de Sôin)

Filosofia

"Sombra de árvore -
Até mesmo a companhia de uma borboleta
É karma de uma vida anterior."
                  (de Issa)

Ironia

"Uma cai -
Duas caem -
Ah, camélias!"
          (de Shiki)

Já arrisquei alguns haicais (livro Cavalo da Escrita). Agora, se não tomar cuidado, nem os haicais me satisfazem. Gostaria de dizer tudo em um suspiro (sem palavras...). Economia de palavras e de imagens. Não sendo possível, invento:

         Suspiro...
         aspiro, expiro, respiro,
         Infiro...
                    (Husek)

Carlos Roberto Husek.

3 comentários:

  1. Num dos retiros que fiz criei ...
    O silêncio é mudo
    O silêncio fala
    O silêncio cala
    O silêncio é tudo...

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  2. Amo Haicais! São para gourmets da poesia.

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  3. Sonhei que estava acordada
    E quando acordei vi que estava dormindo

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