sábado, 16 de março de 2013
Meus versos de hoje (sem título)/Já madrugada
Olhos,
a água nos olhos,
escorrendo pelas laterais,
pingando das faces nas verticais,
morta nos lábios, na alcova das gengivas,
engolidas na sequidão da garganta,
cadáveres depositados,
nos ventrículos,
expostos.
Ficam lá,
à espera dos anos,
quando virão grudadas,
nas paredes, adormecidas em pó,
e serão exumadas, já livres do passado,
empurradas intestinos abaixo,
excrementos da vida,
poeira comum.
ignotas.
Assim,
os sofrimentos,
dilacerados na pele,
arrebentam-se nos poros, músculos,
e depois, passados dias, tardes, noites a dentro,
infindáveis, dilacerantes, mortais,
doloridos, machucados,
e amortecidos,
se vão.
Tudo,
definha e exaure,
desaparece e se escoa,
consumido nos gestos e palavras,
fica na memória, na vida e na história,
volatiliza-se nas próprias dobras,
do tempo, consumado,
bruma e névoa,
negrume.
Nossa vida,
este fio livre e solto,
barco sem rumo; esta água,
ao sabor das ventanias circulares,
no interior, um vazio de peixes e de redes,
repleto de lacunas estranhas,
e de adjetivos estéreis,
de verbos incultos,
de lutos.
Passados,
de águas passadas,
de grandes pedras rajadas,
de altas e escuras madrugadas,
onde choram bolhas na fímbria das águas,
lágrimas caídas do meu rosto,
de sentimento e desgosto,
amargo, profundo,
do mundo.
Quando escrevo não corrijo. Entro em transe e tomado de um espírito desconhecido escrevo, como se escutasse uma voz estranha que não admite regras gramaticais e preocupações estéticas. É de dentro, do âmago, do ventre, que sai uma profusão de palavras e de imagens que arrebentam no branco da folha, disformes e ensanguentadas, rudes e ao mesmo tempo frágeis, prontas para a vida e para a morte.
Carlos Roberto Husek
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Gostei!!!!
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