sexta-feira, 22 de março de 2013

Do livro "Latipac - a cidade e seus espelhos"


Da minha poesia sobre São Paulo, no último livro "Latipac - a cidade e seus espelhos" , entremeada por versos de Guilherme de Alemeida, de Paulo Bomfim e de Menotti Del Pichia escritos entre aspas:

"Das chaminés
sai a fumaça da raça,
              ítalo-brasileira,
     paulistana e japonesa,
portuguesa e espanhola,
     ucraniana e inglesa,
eslovaca e baiana,
       cearense e mineira,
gaúcha e pernambuca,
que pinta a sua bandeira,
       de treze listas riscada,
de treze lanças de guerra,
       no coração enfincadas,
que Almeida divisou,
nas sombras das Arcadas.
Em cada verso,
em cada humana voz,
há uma simples morada,
que se esconde sob as joias,
que se esconde sob os cargos,
que se esconde sob as comendas,
a morada da simples humanidade,
"Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio... Por que não há de
ser toda gente também assim?"
Felicidade, felicidade
está, todos sabemos,
                       na amizade,
na amorosidade,
                       na simplicidade,
"... chamou-me e disse:
                   'Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz!
... só quando ela partiu,
                       contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz"
É Bomfim que se anuncia,
e se transforma no que escreve
ora com sonetos densos,
ora com sonetos leves,
"Este desejo místico e feroz
Germinando a palavra
                     em minha voz."
No interior de cada tapera,
sob as árvores e sob a Lua,
Colombina vem chegando,
ondulosa, provocante, nua,
e Pierrot não sabe até quando,
poderá aguentar a esperança,
de ver seus lábios beijando,
os doces lábios da mulher,
que Arlequim diz ser sua,
porque ela assim o quer.
na verdade, esta é a sina
    de toda humana vida,
na cidade que se desfolha
a cada minuto, a cada hora,
sempre existem dois lados,
um lascivo outro sonhador,
outro da morte,
         outro do amor,
mas que não vivem separados,
porque ambos se encontram
                               unidos,
embora nunca sejam
        desse modo percebidos.
"Esse amor deu-me o desejo
daquele beijo encontrar.
mas nunca, reunidas, vejo
a volúpia desse beijo,
e a tristeza desse olhar."
Sentiu o poeta,
         sentimos nós,
nesta cidade que amamos,
que dentro do corpo
             nos abdicamos,
dentro do corpo,
             nossa angústia aflora,
encarcerados e sós,
carregamos pelas células,
o desconsolo
      dos nossos avós,
e no entanto progredimos
                 na cidade,
pela comunicação e pelos
                 algarismos,
nos negócios que nos invadem
nos pseudosprogressos,
         e nos egoísmos.
"Nosso corpo é tal qual
              uma torre fechada
onde sonha em seu bojo
uma alma encarcerada"
     Juca Mulato sofre,
com a sofreguidão de Pigarço
     Juca Mulato sofre,
descascando o fumo de corda,
     Juca Mulato sofre,
     sabemos, esta é tua sina,
ao fechar a alma adormecida,
ao mal de amor para viver,
       sem ter vida.
"Juca Mulato sofre
        em cismas se aquebranta.
Uma viola geme,
         uma voz triste canta.

É isso. Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. A ambigüidade da vida é sempre interessante. Ela existe, mas poucos a percebem...talvez só os poetas....ou quem sabe os loucos.

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