sábado, 2 de março de 2013

Algumas considerações sobre a poesia


Há na Psiquiatria ou na Psicanálise, ou em ambas, não sei bem, a idéia de que nossa mente é uma casa que por vezes os móveis estão fora do lugar. O louco ou o possível louco - uma vez que não sabemos o que é ser normal - é aquele cujos os móveis não correspondem ao ambiente: no quarto há o fogão; na cozinha a cama; na sala o chuveiro; no banheiro a geladeira. A função do médico (médico de almas) seria fazer a remoção e transferência de tais móveis para os seus respectivos lugares. O único que teria uma licença psicológica para ter móveis fora do lugar é o poeta (desde que consiga traduzir em arte a sua loucura..!). Por isso que não se pode esperar coerência e lógica, a lógica da "normalidade" - em geral naquele que escreve -, principalmente no escritor de poemas. A poesia por mais que diga respeito ao cotidiano e a fatos das relações humanas, será sempre advinda de uma região que não se apresenta aos olhos comuns com a roupagem do dia, do meio ambiente, daquilo que seria compreensível a qualquer mortal no seu azáfama diário. É preciso parar ao ler um poema. Respirar e sentir na leitura de cada linha, de cada verso, e até de cada palavra o que está nas entrelinhas, porque estas refletem aquela casa desarrumada do poeta, ou não arrumada na forma convencional. Quando há alguma genialidade na escrita, provavelmente, os vocábulos que a traduzem não vêm do quarto, da sala, da cozinha com os móveis trocados (em seu cérebro), mas de um porão ou de um sótão onde se encontram objetos, armários, cofres, malas, baús, com as mais inusitadas coisas, que nem ele saberá explicar ou dar conta. Enfim, a poesia é a materialização de uma certa loucura e o leitor de poesia também necessita posicionar-se com um olhar adequado, de um certo caos interior, com uma certa inversão da ordem das coisas, para sentir e conhecer a verdade poética ( talvez, a verdade da vida..!). Fazer poesia, na verdade, não é fácil, porque requer esse contato com o não conhecido, com o inconsciente, com o macrocosmo e com o microcosmo; ler poesia requer, no  mínimo, uma disponibilidade acrítica em conhecer e sentir e deixar-se levar por uma geografia desconhecida e inusitada; necessita de algum esforço para o não-óbvio. Ler poesia não é para muitos..! Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. O que isso diz então de pequenos seres perdidos como essa que vos le e vos escreve? :) E já que para mim escrever versos é o meio mais simples de exorcizar demônios, secar prantos, aparar arestas e exercitar loucuras, creio que suas observações estão corretas; Mas o que isso diz sobre todos nós?

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