sexta-feira, 17 de março de 2017

A magia



Posso dizer
      as coisas mais puras
que nunca antes
               foram ouvidas.
Posso ensinar
              a contar e olhar
as estrelas.
Posso tirar dos bolsos
                 alguns versos
do momento.
Posso voar
                         sem asas
e pousar em esferas
                        distantes.
Posso esquecer
                       que existo
e sobreviver
                às intempéries.
Posso fazer discursos
                         coerentes
para situações
                    improváveis.
Posso medir
                      os diálogos
para que estiquem
                   ou encolham
se necessários.
Posso como
                  um camaleão
tomar a cor
                   do ambiente.
Posso inventar
                          cartolas
e delas tirar
             coelhos brancos
de olhos doces.

Só não posso
      penetrar nos cérebros
e nos corações
                   circunstantes
para deles extrair
     o átomo da discórdia,
e o olhar da desconfiança,
que mascara as intenções,
                   nutre as dores
e instala a doença.
.........................................
Voam os pensamentos
                e o coração voa,
e os olhos ultrapassam
          horizontes perdidos,
e na noite escura
buscam algumas estradas,
desenhadas pela luz
                        das estrelas,
mas só encontram
                 o neon das ruas,
as lâmpadas amarelas
           de alguns caminhos,
as portas de ferro
             de madeira e vidro,
das ruas da cidade,
               o frio das paredes
que sustentam prédios,
            e escondem por trás
dos tijolos entremeados,
    de argamassas e cimento,
...vidas.

Vidas decodificadas
                   letras, números,
uma fotografia impressa,
               uma indumentária
uma função social,
                 e as mil palavras
que as cercam entre papéis
        e telas de computador.

Mas, como dizia
                            Fernando,
nos seus 46 anos
                       de vida longa
e velhice prematura,
    "tudo vale a pena
      quando a alma
       não é pequena"
mas, só os que buscarem
absorver e entender poesia,
que não é dom do poeta
            mas de seus leitores
     (essa antena que
     capta as belezas
      e os desacertos
       do mundo)
poderão ver
              sem ambiguidades
que as coisas verdadeiras
            são simples e claras
e delas, por elas, e nelas
       vivem os que quiserem
a felicidade da vida,
                   que só necessita
da plenitude da alma
                   e  da respiração
apaziguada,
                aquela que aspira
do ar o oxigênio
              e enche os pulmões
de alegria,
     (que não necessitam
          de explicação)
                    e não machuca,
e não atordoa,
       como não machucam,
não atordoam
             e não se explicam
o voo dos pássaros,
                as ondas do mar,
as aparições da lua,
              a alvorada repleta
de luzes e de reflexos,
                      o entardecer
que desce suave
                     no horizonte,

Posso dizer
          as coisas mais puras
que nunca antes
                   foram ouvidas,
só não posso transformar
                       os corações...



Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. Bravo, bravíssimo!

    Uma poesia perfeita merece aplausos!

    Aplausos!
    Um dia chego a esse nível de discernimento da vida, professor.

    Parabéns!

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