domingo, 19 de março de 2017

E necessitamos de tantas flores..!



Olhos que tem o mar
                      e cujas eventuais ondas
poderiam ficar contidas na base
            e crescerem em torno da íris,
escapam de maremotos,
                       escapam de tsunamis,
porque têm a capacidade
                          de renovação diante
dos fatos novos que a vida
                        cisma em apresentar,
e sossegam as horas,
                                  entre espumas.


   (e ainda assim muitas águas
     surgem de ignotas fontes e formam
    fios de águas, que correm
    sem percepção, mas que poderiam
    se transformar em caudalosos rios)


Não existem areias ou praias,
                         a placidez das águas
faz absorver as próprias ondas,
                       e o mar se transforma
em manso e transparente lago.


 (viver é um teatro, o teatro é vida
   mas sobra após o encerramento
 diário das cortinas, uma frustração,
            um gosto amargo,
   de saber que as portas se abrem
    e se ganham as ruas que nos
      desenham a realidade)


E a tudo continuará
                               no mesmo ritmo,
de segunda a sexta,
                        de semana a semana,
em subordinação aos sentimentos
                      que constroem diques,
cimentam a paisagem,


  (que necessita de tantas flores..!),


dirigem o olhar severo à vida,
                 e picham muros, paredes,
cadeiras, mesas, corredores,
                 com símbolos desconexos,
e rabiscos estranhos.


    (a indulgência é uma flor...
     e necessitamos de tantas flores..!)


Só as próprias razões,
                       sem condescendência,
satisfeitas da forma
                       independente do agir.


(e o que nos magoa nos alimenta,
 e o que nos alimenta nos trai,
 e o que nos trai cava buracos
 internos impossíveis de reparação
...e necessitamos de tantas flores..!)


Convulsões internas
           de fontes não reveladas
se retroalimentam, à medida
que fluem as lágrimas,


   (que quase sempre
    escorrem pelas faces
    para o fundo do peito)


Olhos com a cor do mar
                 e com a cor do céu,
repletos de saveiros
               e de nuvens prontas
para desaguar
               em pequenas poças,
mal sabendo de acúmulos
          interiores, de histórias
que sucumbiram ao longo
                                   da vida,
mas que conseguem
                   fazer nascer o sol     
e povoarem a cena do dia
                              de estrelas.


(quem tem por base o afeto,
        tem esperança
 de vida, tem cedência,
 tem a inconsciente consciência
    que tudo é isso, e o resto
   somente serve de iguaria
      para os desajustes
.................................................
...e necessitamos de tantas flores..!)



Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. Desejos vãos

    Eu queria ser o Mar de altivo porte
    Que ri e canta, a vastidão imensa!
    Eu queria ser a Pedra que não pensa,
    A pedra do caminho, rude e forte!

    Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
    O bem do que é humilde e não tem sorte!
    Eu queria ser a árvore tosca e densa
    Que ri do mundo vão e até da morte!

    Mas o Mar também chora de tristeza…
    As árvores também, como quem reza,
    Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

    E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
    Tem lágrimas de sangue na agonia!
    E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…
    Florbela Espanca

    ResponderExcluir