sábado, 4 de março de 2017
A individualidade de cada um
(Em qualquer lugar
em qualquer tempo
para qualquer pessoa,
homem ou mulher,
principalmente estas,
- personagens -
profissionais,
profissionalizantes,
senhoras
das moradias
e de seus maridos,
esposas
e amantes,
e amantes
esposas,
e puras,
nas eternas
meninas
que nelas
subsistem,
e que pedem
passagem,
que tampam
o espelho
com o pano dos
dos seus vestidos,
imbuídas
de racionalidades
meramente
edificadas
por preceitos
sociais,
e que apesar de tudo
são frágeis
e invisíveis)
Mulheres
personagens
compactas,
fechadas
em seus ossos
e músculos,
por vezes
econômicas
nos gestos,
econômicas
nas falas.
(amarradas
pelas teias
de suas
convicções
ou de suas
compreensíveis
conveniências
ou de suas
verdades
não conhecidas)
Fogem
para um mar
interior,
repleto
de
profundezas
não
fotografadas;
(todos as temos)
um estreito
entre rochas
e águas
escuras,
impede
qualquer
navegação,
ou seleciona
os navegantes
que possuam
o mapa
da profundidade,
a senha
das descobertas,
o código
secreto
das
possibilidades,
ainda
que sujeitas
a variadas
interpretações.
(portas que se
fecham, luzes
que se apagam)
Com
desconhecidas,
mas efetivas
e incensuráveis
razões,
(cada qual tem
suas necessidades)
se encontram
diante
do azáfama
do dia
e dos
compromissos
que não
permitem
desabrocharem
em pétalas,
aflorarem
em perfumes,
abrirem
as asas
de pássaros
acuados
que não
voam
e que não
pousam
em árvores,
a não ser
em segurança
e em galhos
conhecidos;
ondas
que não
espumam,
brisas
que não
acariciam,
nuvens
que não
acontecem,
pingos
de chuva
que caem
distanciados
e secam
antes
de tocar
o solo,
na aridez
das formas
que cercam
os espaços
insulados
em pequenas
aberturas,
e deixam
em cofres
e gavetas
chaves
perdidas.
(e no entanto
podem
se mostrar
plenas
sem avisos
e sem
exigências...)
Comunicação,
arte
e mistério,
um fio
finíssimo,
translúcido,
quase
invisível,
que mantém
o coração
e o cérebro.
(ativam-se
satélites
da alma,
artefatos
abstratos,
e ondas
elétricas
em espaços
impensados)
Atapetar
caminhos,
regar
plantas,
colorir
paredes,
envernizar
móveis,
arrumar
livros,
ajeitar
papéis
brindar
conquistas,
e juntar
as mãos
para dizer:
estamos aqui.
Eis o mistério..!
(que a vida é feita
de gestos)
Nas orações
noturnas
preparadas
para pedir
pelo (s)
amigo (s),
e tocar
de leve
dedos,
que pairem
no escuro
dos quartos.
Quando plenas,
desculpam-se
sem
necessidade,
ativam-se
sem
pedido,
alimentam
a simpatia
em
pequenas
e diárias
doses,
e se doam,
sem medo,
sem
barreiras,
sem
preconceitos,
de serem
o que são,
(não pode
haver censura
na verdade,
que
não se arvora
em sufocante
inimiga,
e não deseja
a eliminação,
de regras;
porque
há revolução
sem morte,
e há construção
sem
derribadas,
e alianças
sem
casamento,
e sem
rejeições)
e com isso
o frio
transforma-se
em calor,
e após
eventuais
tempestades,
nasce
o arco-íris,
na difícil
missão
de aceitar-se
e aceitar.
(massagear
o momento
encostando
o rosto no ar
para o afago
do vento)
Pequenos
gestos
de delicadeza,
de preocupação,
e de doçura,
constroem
veredas
perpétuas.
(a sustentabilidade
da essência das
coisas não ditas
que são a
alma da matéria,
tão simples
e fáceis,
mais ao mesmo
tempo
tão complexas.
............................
As coisas
simples
e desejadas
são as menos
praticadas
e entendidas)
E ficamos
todos nós
na espera
do milagre
da vida..!
Carlos Roberto Husek
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Belo poema!
ResponderExcluirComo dizia Clarice Lispector...
...é tão silencioso falar...
O silêncio fala,e o gesto fala, e a fala, por vezes silencia. Somos ilhas!
ExcluirPoema à boca fechada
ResponderExcluirNão direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago