domingo, 16 de junho de 2013

Algum humor negro




Levantam-se
        os mortos,
secura na boca,
ossos moídos.

Levantam-se
        os mortos,
desfigurados
arrastam-se
entre ruelas
de campas
      cinzentas.

Levantam-se
      os mortos,
e caminham
entre santos
de pedra sabão.

Levantram-se
      os mortos,
sem olhos
         no rosto,
só terra batida.

Levantam-se
        os mortos,
dirigem-se
         sisudos,
à administração
             central,
querem saber
            de seus
prontuários.

Levantam-se
          os mortos,
buscam a verdade,
das datas e horas,
        nos registros,
e fichários.
.........................

Um funcionário
       do cemitério
os atende
com paciência,
e explica cada dado,
cada vírgula,
           cada ponto,
em virtuosa
                 ciência.

.............................

Olham-se,
          entreolham-se,
suspiram e voltam,
passos miúdos
para seus esquifes
            imundos
e se acomodam
na eternidade
já tranquilizados
            de tudo.

Carlos Roberto Husek

5 comentários:

  1. Não gosto do tema morte, prefiro vida.
    Mas, pra não perder a oportunidade, vale refletir sobre a frase dita pelo grande gênio Pablo Picasso.
    Lá vai...
    "A morte não e a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos".

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Quer dizer que nem na morte escapamos da burocracia? :)

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  4. Quer dizer que nem na morte escapamos da burocracia? :)

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  5. Hahaha! Adorei os mortos burocráticos! E aí puderam viver suas mortes em paz ...

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