quinta-feira, 13 de junho de 2013

Brincando com a teoria poética


Décio Pignataria (nascido em Jundiaí, em 1927, poeta, escritor, ensaista, tradutor, morreu a alguns anos - um ou dois -, não sei bem a data) transcreve em seu livro "O que é comunicação poética" a classificação dos poemas, segundo Ezra Pound, em três tipos fundamentais, o que chama de Amostragem Sincrônica:

Fanopéia - em que predominam imagens, comparações, metáforas;

      "E que prazer o meu! que prazer insensato!
        - pela vista comer-te o pêssego do lábio,
        e o pêssego comer apenas pelo tato"
                                              (Gilka Machado)

Melopéia - onde predomina a música, mesmo dissonante ou a antimúsica;

      "Me sinto perdida
       no meio da noite
       da noite tão triste
       tão triste de ver
       de ver que não vejo
       você meu desejo
       desejo tão triste
       tão triste de ter."
                   (Aloysio Figueiredo e J.M.Costa)

Logopéia - em que predomina a dança das idéias entre as palavras.

       "Tenho tanto sentimento
         Que é frequente persuadir-me
         De que sou sentimental,
         Mas reconheço, ao medir-me,
         Que tudo isso é pensamento,
         Que não senti, afinal."
                          (Fernando Pessoa)

Podem ter as três características num mesmo poema.

Vou brincar e criar iguais figuras:

(fanopéia)
A terra preta, o mato verde,
e peixes pratas numa rede,
serpeando a práia leitosa,
o mar azul em polvorosa.

(melopéia)
Vaga,
música vaga,
vaga a onda
musicada,
na onda a vagar
na vaga azul
do vago mar.

(logopéia)
Meu raciocínio
pula, grita, dança, ri e chora,
não sei bem se é raciocínio
ou o sentimento da hora.

Claro está que é apenas uma brincadeira da minha parte, mas é interessante como é possível comunicar tudo, e um pouco mais, com o instrumental que a poesia nos dá, principalmente nas entrelinhas, sob as próprias palavras (signos), ou utilizando destes de forma não usual, quanto aos seus significados e quanto a relação dos mesmos em uma determinada frase ou verso. Fazer poesia é dizer sem dizer o que é dito, dizendo tudo. Carlos Roberto Husek.

Um comentário:

  1. Genial a última frase!!! Foi a melhor definição com a qual já tive contato! É como estar grávida, gestar um filho é fazer sem fazer, fazendo tudo!

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