sábado, 8 de junho de 2013

A Literatura e a desconexidade do mundo


A visão moderna, na arte em geral, teve o condão de revelar que o mundo não é tão lógico e certo como o vemos ou como pensamos. Mal comparando, antigamente via-se o mundo como uma fotografia, tudo no seu lugar: ruas, avenidas, montanhas, o céu, o sol, a lua, as famílias, as roupas (masculina e feminina), as profissões e os profissionais, a gravata combinando com a camisa e com o terno, a ordem moral e religiosa e, todos que não se sentissem verdadeiros neste quadro sofreriam de profunda neurose, de uma falta de sintonia social e psicológica e estariam fadados à marginalidade. Hoje sabemos que o ser humano é muito mais complexo e que a própria natureza não se apresenta sempre como uma paisagem em que o verde, o marrom, o azul, o branco e outras cores correspondam com exatidão a cada acidente, a cada objeto, a cada parte. A pintura clássica consciente cedeu passo à pintura inconsciente: em casos extremos, um rosto com as orelhas no lugar dos olhos e uma língua saindo da testa, porque em nosso interior tal visão tem uma certa lógica. Os versos rimados e com número de sílabas especificas retratando o amor, a mulher a amada, a natureza, os sentimentos, cedeu espaço para os versos brancos, para os pontinhos e espaços, para as palavras que rimam não com outras palavras, mas com a idéia, com o som, com a idéia do som, com o significado íntimo, com a possibilidade. O poeta é um criador que necessita de outro criador, o leitor, que é chamado a completar o poema, a idéia, por sua própria leitura. Uma vez publicado um poema ele passa para o domínio público, com facetas diversas para cada indivíduo que o lê, a ponto de um mesmo poema dizer para uns sobre a felicidade e para outros sobre a desgraça. São os poemas espelhos que refletem quem os lê, mais do que possam revelar o espírito de quem os escreve.
Mesmo o que chamamos de "modernismo" tem caracteres diferentes, dependentes da manisfestção escrita de um ou outro autor. Trata-se não de um estilo, mas de um complexo de estilos, não de uma família, mas de um complexos de famílias e de arranjos familiares, dentre os seus cultores, que por tão diversos, por vezes, não se reconhecem entre seus iguais.
Há um eterno questionamento sobre o homem e sobre as coisas (Freud e a Psicanálise;  Einstein e a Relatividade; a existência, a rigor, não de dois sexos, mas de outros tantos quanto possível a combinação entre eles, psicológica, orgânica e fisicamente). O mundo mostrou-se há  muito líquido, gelatinoso. A ilusão da terra firme ainda nos persegue, embora mera ilusão. O próprio planeta é uma bola líquida a girar no espaço e sobre ele nos situamos, como sobre uma plataforma de pedra.
Tudo isto se reflete na arte, e aí temos, algumas manifestações, dentro do "modernismo", como o impressionismo, o futurismo, o cubismo, o dadaísmo,o surrealismo, o concretismo. Não necessariamente nesta ordem.
Impressionismo ( desprezo pelo natural e a arte voltada para si mesmo, impressão visual das coisas, sutilezas da impressão jogada no quadro de arte, pontilhada, rabiscada, hipersensível, estrutura não-linear, meio esotérico, exploração dos estados psicológicos);Furismo (destruição da sintaxe, preferência pelo verbo no infinitivo, rejeição aos adjetivos, abolição das metáforas, liberdade de criação, despersonalização, ausência de controle sintático e de limites de pontuação); Cubismo (decomposição dos objetos e os recompõe, segundo uma lógica própria, particular, supressão da discursividade lógica e do nexo causal, predomínio da realidade pensada sobre a realidade aparente, estética fragmentária); Dadaísmo e Surrealismo (questionam a natureza, inexpressividade das formas, negação de todos os meios de comunicação lógica, contradição: comunicar uma manifestação contrária a tudo o que existe por meio de uma não comunicação).
Evidentemente esta minha manifestação é um pouco impressionista e surrealista, sem muito rigor, sem preocupação com datas: vale a minha impressão..! Aqui vão algumas quadras, desconectadas de qualquer visão clássica, que ora faço ao sabor de um estado de espírito particular, logo no início do dia (5h da manhã):

Nuvens...
   retas e curvas
em um céu de azul riscado.
Ouço os sons da manhã,
e os sons internos
           do meu ouvido.
Fico na expectativa
           para descobrir
se o que ouço é o coração,
 o sangue circulando
ou  os neurônios eletrificados
a se comunicarem..?
Meus pensamentos
                  circulam...
Circulam..?
Vão da cabeça aos pés,
          passam pelo figado,
pelo estomago,
pelo pulmão,
por cada um dos meus braços,
pelo coração
      e voltam ao cérebro...
(penso com o corpo inteiro).
Aborto palavras
e finjo construir versos.

Carlos Roberto Husek



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