sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Quando partir...
Quando partir,
partirei pleno,
sabendo que embora
tenha posto os pés na terra,
sempre voltei meus olhos para os céus
e meu coração angustiado de astros
bateu emocionado em todas as aventuras.
Quando partir,
quero deixar marcas no chão das horas,
passos de dança suavemente postos
e no ar o retrato diáfano das mãos
guardando gestos
e o desenho - quem verá? - daqueles
que conterão inconfundíveis notas
de amor, de abraço, de sorriso.
Quando partir,
quem me amou, abraçou e sorriu
sentirá que não fugi de todo
dos meus amigos.
Quando partir,
aqueles que só souberam de mim
na formalidade dos eventos,
não irão, espero, admoestar
meus arrufos humanos
e minhas inseguranças
e meus desejos,
sabedores, por certo,
do frágil sol que possuí
nascido e morto a cada entardecer.
Quando partir,
pequeno e fugaz,
se apiedem os céus dos meus pecados,
e destes fiquem a borda
que não desnatura a essência das coisas.
Quando partir,
saberão os que me conheceram
que em cada olhar ansiei pelo olhar,
que em cada luz ansiei pela luz,
que em cada som ansiei pelo som,
que em cada carinho ansiei pelo carinho,
e só dei o que foi possível dar,
na infinita necessidade de ser.
Quando partir,
em um dia assim como este,
com esta chuva, com estas nuvens,
e esta noite que se fará eterna
tudo se acomodará,
sem que me vejam destituído
da capacidade de dar e receber,
eu que serei pó ou cinza ou um passado
sem começo ou fim,
um ficar esperando o refúgio da terra,
um ir vestido de vento,
um voar para o nada,
batendo asas emprestadas,
como um pássaro cego,
em busca da terra prometida.
Quando partir
sem aviso no dorso do tempo,
sem razão, sem veleidades
e sem sonhos
saberão que tudo não passou
de um simples texto,
crônica sem lastro,
de poucas páginas,
em meio a milhares de escritos
nos volumosos e empoeirados
alfarrábios da vida.
Carlos Roberto Husek
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Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.
ResponderExcluirLya Luft
Os "amantes" devem permanecer um no coração do outro, para que ao chegar a hora possam partir juntos. Se não for possível os corpos partirem juntos, que o amor mais inesperado e pleno já sentido vá na alma e permaneça no coração e mantenha viva a memória das aventuras, dos sorrisos, das fantasias, dos abraços, dos olhares furtivos e sobretudo da felicidade. Um grande amor não pode morrer e, com certeza, um dia será vivido de maneira plena. uil
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