quinta-feira, 7 de abril de 2016

Meu romance em versos Cap II



                     II


Não longe dali, transitava
             por uma rua lateral,
uma jovem, de seus 80 anos,
com a quase faceirice
     que possuíra aos 18 anos.
Uma velha senhora,
         de espírito adolescente
e corpo enrugado,
     com sua sombrinha azul,
seu vestido comprido,
                           cinza claro,
abaixo dos joelhos,
              seu lenço vermelho
em volta do pescoço,
         óculos de aro azulado,
pois gostava de combinar
    as roupas e os acessórios
da melhor forma 
      que a ciência das coisas
e da vida possibilitassem,
                      naqueles dias,
em que a idade,
                        já avançada,
barrava o futuro
         e este traçava curvas,
acentuadas e sombrias
   trezentos e oitenta graus,
sem enxergar o próximo
               passo e o próximo
minuto.
Moças, por ela passavam
          em voz alta, trejeitos
amplos, saias curtas,
                      sorriso largo,
olhos brilhantes,
              que denunciavam 
a imensidão de horizontes
                       satisfatórios,
mas nela perdidos
     na pouca luz dos olhos.
Suspirou, pôs o raciocínio
               do dia nas coisas,
olhou o cachorro
          que abanava o rabo
pela fímbria da calçada,
        o mendigo que pedia
esmola com um chapéu
                          amassado,
embaixo de um poste,
        uma florista sentada
em um banco de madeira,
    cercada de rosas, lírios,
gerânios, cravos,  goivos
                           e violetas,
à meia distância
               observou jovens
de terno e gravata
     que punham no passo
a solenidade
das horas e das intenções
profissionais,
                          do mundo
a ser conquistado,
           o plano das propostas
nos próximos anos,
          a certeza das próximas
décadas,
       os deboches e veleidades 
do amor e do sexo.
Viu quando uma jovem
   aproximou-se de um deles
e com ardor beijou
     cada uma das bochechas
e os lábios.
No seu tempo - pensou -
        isto não seria possível,
o amor doía,
                a paixão matava,
e as distâncias físicas
  tornavam  extremamente
dolorosas as palavras,
                        que escritas
sangravam no papel
            e eram escondidas
em envelopes selados
             e primorosamente
fechados,
   com as pontas esticadas,
 passadas e engomadas
  pela língua, que delicada
suavizava a cola na aba
e perfumava o sobrescrito
encerrando
                na parte interna
o segredo
     dos vocábulos mágicos, 
que só o era entre eles,
                 os enamorados.
Amantes? Jamais,
  porque aviltaria a alma
e a graça do encontro,
           embora existissem
nas alcovas
                e nas descrições
de folhetins,
                ao pé das mesas
nas conversas
                         de família.
Perdera tempo, talvez,
          na verdade, quisera
ter colhido dos lábios
                                  o mel
que pudessem oferecer,
     melhor, do que sonhar
sem concretude,
                           fantasiar,
sem emoção.
Tarde! Ah, se ela
         pudesse ter revelado
o seu sentimento
                            da forma
como ora se fazia,
                e não por cartas
e cartas,
                 umas perdidas,
outras, 
          no destino correto,
mas só palavras,
                          palavras,
que podiam ou não
                ser entendidas!
Perdeu-se no tempo
          aquele que deixara
fugirem as cartas
                ambos, é certo;
"e-mails" hodiernos?
Duvidava, porquanto
               os acessos hoje
eram diretos,
                          bem via,
e a comunicação
                       eletrônica
se prestava
       a outras finalidades
mais comezinhas,
              desnudar a vida
privada e escancarar
               para o universo
o não senso,
        aparente e absurdo
das particularidades
                              do dia.
Andava.....
             não muito firme,
mas resoluta,
                  para a igreja,
de há muito
        seu habitat natural.
O que buscava?
                   Um amparo
para a vida,
                           que esta
já se findara
              no desassossego,
ante o azáfama
                         das ruas!
Não soube
            a si mesma dizer,
 não buscou dizer,
         porque o horizonte
era pouco,
                    e as sombras
do ocaso
                    prevaleciam.
Rezou, rezou, rezou,
      e de olhos marejados
saiu do templo a ver
                     se o mundo
dava algum sinal.
Por onde andaria,
              se é que andaria,
 ou viveria,
                          seu único
e verdadeiro amor?
Parou
            para sentir a brisa
da manhã,
          mas só fez absorver
o cinza da fumaça:
Nada,
     efetivamente mudara,
e seu espírito
                    era o mesmo.
Estava só.


Carlos Roberto Husek

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