quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Saga do Rio 2
Nossa vida,
este fio longo solto,
este barco de madeira escura,
que vai ao sabor dos ventos rudes,
carregando um vazio de tábuas e de redes,
um vazio de tempo e de víveres,
um vazio de tempos vividos,
um vazio de vida,
vai mudo.
Entorno
o lamento das ondas,
o barulho das batidas sincopadas,
nos cascos úmidos de madeira velha,
que rangem como se fossem negros escravos,
que remassem cantando rio adentro,
chorosos em doídos lamentos,
corpos nus agachados,
fios de vida.
Açoites,
na escuridão da noite,
açoites escuros do final do dia,
açoites que amordaçam gemidos e gritos,
descontrolados, chicoteando, construindo feridas,
ritmados, repetidos em sonhos retidos,
que estiram no ar o sangue,
sístole e diástole,
em nuvens.
Olhos,
água nos olhos,
escorrendo pelas laterais,
pingando nas verticais da face,
posto nos lábios, nas alcovas das gengivas,
engolidas secas na garganta,
cadáveres depositados,
nos ventrículos
expostos.
Ficam lá
à espera dos anos,
quando se tornarem águas escuras,
grudadas nas paredes internas das faces,
à espera de serem exumadas, livres do passado,
empurradas pelos esgotos das fossas,
como excrementos da vida,
para águas comuns,
ignotas.
Assim,
nossos sofrimentos,
dilacerados e inconsequentes,
arrebentam-se nos poros e músculos,
e depois de muito tempo, passados dias e noites,
infindáveis sobre notas internas,
arrefecem e criam cascas,
indolores, amortecidos,
se vão.
Carlos Roberto Husek
Assinar:
Postar comentários (Atom)
De
ResponderExcluirUma
Crueza
E Beleza
Que meus
Olhos, uma
Lágrima
Verte
ram
Pleno vazio. Vazio Pleno. Os opostos se equivalem.
ResponderExcluir