quinta-feira, 10 de outubro de 2013

ParepareParis



Ao lado do Sena
passam os amantes
como se tivessem
chegado antes,
antes das águas
que percorrem
as margens sinuosas,
antes de seus muros
de pedras e arcos.

Chegaram de leve
carregados de lenços,
e de boinas e luvas,
enquanto o frio
cai em pedaços
como bagos de uvas,
     cintilante,
     iluminado,
por contornos
      indefindos,
     materialmente
      tangível.
Um frio em globos
              e taças,
um frio de vinho
     e de quentura
que cai em pedaços,
em meio a bruma.

"La nuit tombe"
  no "ciel noir",
  no "ciel gris",
  no "ciel rouge"
  noite "pâle",
de um luar escondido,
de uma garoa fina,
de um simbioso gemido,
e os lábios se grudam
em um beijo demorado,
      tudo promete
      neste encontro
      de esperanças,
    ao mesmo tempo,
          amantes,
    ao mesmo tempo,
          crianças.

Os olhares declinam
os mais antigos verbos,
que somente se revelam
          entre os servos,
de um sentimento,
de corpos e alquimia
        e espiritualidade
e que geme nos cafés
      entre olhares
      que decifram
   esta bilateralidade,
cada qual com seu olhar
sinuoso como o rio,
um olhar de quietude,
de amparo e de desejos
         de restos,
   e de complementos, 
        de incertezas,
        e de beijos.

Ao lado do Sena
passam os amantes,
     braços cruzados
à altura das cinturas,
vão sendo molhados
por suas fantasias,
      alegrias
    e amarguras.

Há um borbulhar
nas águas cantantes,
que acompanham
    os pares
    e os impares,
solitários personagens
     desenhados
nos cabarés,
      nas praças,
               e nas ruas,
cujas pedras centenárias
   brilham solitárias
                     e nuas.

Aos poucos a madrugada
amortece as estátuas
    e os telhados
que se comprimem
entre sótãos e chaminés
e quadrantes janelas,
sobre os postes
                   e cafés.

Sobram os cúmplices
que se abraçam
respirando em sintonia
esperando que a noite
revele atrás das pontes
as pontas do dia.  

Assim Paris desfalece
e morre e anoitece.
e depois renasce
para sempre amar
com o mesmo olhar
a mesma face,
a mesma prece.       

Carlos Roberto Husek

2 comentários:

  1. Pois Paris é uma festa... E os amantes sempre terão Paris.
    Nem que seja para dormir debaixo da ponte (Alexandre III, bien sur) ;)

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  2. Paris foi construída em volta dos amantes que lá existiam antes.

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