quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Latipac - A cidade e seus espelhos


Curitiba


(destacando Paulo Leminski, versos grafados de "Aviso aos Náufragos")

Sobre a terra vermelha,
passou o homem,
          o asfalto cinza,
e sobre o asfalto,
fez surgir toda espécie
             de veículos
que passaram a transitar
carregando tijolos e ferros,
quadricularam-se as ruas,
e toda gente passou
        a se cumprimentar,
dentro de seus grupos
        e de suas simpatias,
nada podia viver
de concreto na poesia,
nada podia viver
de romântico na poesia,
nada podia viver
de parnasiano na poesia,
nada podia viver
de simbólico na poesia,
nada podia viver
de surrealista na poesia.
nem de moderno,
nem de expressionista,
numa cidade de ferro,
numa cidade de prédios,
numa cidade lapidada,
numa cidade acabada,
somente um poeta,
......................................
"Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta para o galho,
muito depois de caída."

Nasceu em 1944, em Curitiba e morreu em 1989, na mesma cidade, decorrente de um alcoolismo crônico. Veio do concretismo e deixou-se influenciar pela poesia japonesa (haicais), pela música popular e pela poesia beat: "Eis a voz, eis o deus, eis a fala,/ eis que a luz se ascendeu na casa/ e não cabe mais na sala."
Outros versos característicos:"aqui jaz um grande poeta,
                                                 nada deixou escrito,
                                                 este silêncio, acredito,
                                                 são suas obras completas."
Poesia é isto. Em poucas palavras fala-se tudo.Carlos Roberto Husek

3 comentários:

  1. Você comunica sua essência através de sua poesia! E creia que o ato de escrever não e solitário, você conecta as pessoas através de sua arte.

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  2. Oi Carlos, registrei alguns haikais deste autor. Estou lendo de modo anarquico, sem ordem, em desordem que organiza minha emoção diante da sua poesia. Há dias me delicio aqui. Só agora observei que deveria ter notificado você. Desculpe se invado sua tão elaborada arte com comentários profanos. Sua poesia é irresistível! Puro deleite para minha alma! Fiz muitos comentários por aqui, mas nenhum deles traduziu o que tenho sentido. Obrigada!

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