sábado, 1 de dezembro de 2012

Exercício para o poético


Aqui nos permitimos sair um pouco da nossa poesia (Latipac), para flanarmos no fazer poético. Escrever, escrever. Há uma sensação de incompletude na escrita. A escrita nunca se completa e nunca se mostra inteira e não traduz nunca o momento do espírito. Se isto é uma verdade, e cremos que é, porque a apreensão da realidade é um momento complexo e passa por um filtro, o filtro do corpo físico (olhos, ouvidos, sentidos, em geral), transformando a realidade no momento mesmo da referida apreensão, a poesia é o veículo mais apropriado para tanto, porque mais sutil. Os instrumentos da poesia são mais evocativos da sensibilidade, e portanto, mais propensos a repercutir a realidade na sua dimensão íntima e efetivamente real. O que vemos é parte da realidade. A tradução que automática ou estudadamente fazemos do que vemos é a realidade que sentimos, que nos vem ao espírito. A realidade é pois, sempre, a junção do que vemos, ouvimos, sentimos, com a interpretação que fazemos dessa apreensão. Por isso, quando faço poesia, interpreto o mundo (que nos parece real, fotográfico), íntimo, interno (tristeza) ou externo (árvore) e crio para a vida outro objeto que deve ser apreendido e traduzido (interpretado) por outra pessoa, construindo esta, a sua própria realidade.

Branco, branco, o peixe prateado,
à luz do sol branco e argênteo,
sobre as águas cristalinas e azuis.
A predominância do branco
no meu espírito enlutado,
é a luz que vejo na percepção
                              do mundo,
de um fato aparentemente simples,
como um peixe nadando 
nas águas claras de um rio,
iluminado pelo dia,
em contraste com a solidão,
por si escura e intraduzível,
de um véu que perpassa
e filtra pelos meus olhos,
o peixe, a água, o sol, o rio.

Eis o que digo, numa poesia (poesia?) que agora criei, diante de uma visão material e de uma sensação do espírito. Estranho? A poesia (como qualquer arte, ou que pretenda ser uma arte) não é veículo para a normalidade, simplesmente fotográfica dos fatos, das coisas, dos sentimentos. A poesia é, por si,  estranha. Daí porque muitos não a entendem. Para entender de poesia é necessário deixar uma janela aberta para o infinito. Intuir, sentir, invocar, provocar, influir, refluir, liberar os sentidos, abrir os canais. É sempre metalinguagem, é sempre metafísica, é sempre sutileza, mesmo que fale de coisas concretas. Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. A poesia é pura subjetividade. Se não entendem é porque são objetivos.... Talvez....

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