domingo, 26 de fevereiro de 2017

Tum, tum, baritumtum



Sob o batuque do samba,
                 na avenida em evolução,
a linda passista

  (tum, tum, baritumtum)

com o corpo escultural
                            em arrebentação,

  (tum, tum, baritumtum)

seus seios de vida,
                                    suas curvas,
suas miçangas,

  (tum, tum, baritumtum)

                seus penachos coloridos
suas meias colantes,
                                      suas luvas,
suas mangas,

  (tum, tum, baritumtum)

   seu ventre que abriga o mundo,
suas coxas e glúteos
                                 arredondados,

  (tum, tum, baritumtum)

vão em ritmo de alegria,
                de presentes e passados,
pulsando nos olhos furta-cor,
                 o brilho das lantejoulas,

  (tum, tum, baritumtum)

e espargindo calor
               entre brancas e crioulas.

Tudo é festa e fantasia,
                      há choro de emoção,
notas altíssimas,
                                     coreografia,
decantação.
 
   (tum, tum, baritumtum)

E passa o "abre-alas",
         e o mestre-sala em ascensão,
o grupo das baianas,
                um apito na contramão,

  (tum, tum, baritumtum)

e os tambores e pandeiros,
            acompanham a percussão,
carros alegóricos,
                                 em concreção,

  (tum, tum, baritumtum)

destaques eufóricos
                    acenando à multidão.

E na avenida,
                   terminada a evolução,
sobra a festa repercutida
                   da esperada jubilação.

Volto meus olhos,
      para dentro da minha própria
encantação.

Meus sons são mais pobres,
                 minhas cores dispersas,
tenho tristezas desfilando
                 por infinitas conversas,
mas absorvo da bateria
                             do meu coração,
um rimbombar de nostalgia,
                             em consagração,
e uma eterna cantoria,
                        avivada pela razão,

  (tum, tum, baritumtum)


Chego ao fim da minha escola,
                no bloco dos escondidos,
carregando adereços,
                       e pingentes diluídos,
sambando em passos miúdos
             a cadência dos esquecidos.

  (tum, tum, baritum, tum...
  ...tum, tum, baritum, tum
  tum, tum, baritum, tum...
  ...tum, tum, bari
  tum, tum...
  ...tum
  tu........)
 

Carlos Roberto Husek

3 comentários:

  1. A canção das lágrimas de Pierrot
    ....
    II

    Pierrot entra em salto súbito.
    Upa! Que força o levanta?
    E enquanto a turba se espanta,
    Ei-lo se roja em decúbito.

    A tez, antes melancólica,
    Brilha. A cara careteia.
    Canta. Toca. E com tal veia,
    com tanta paixão diabólica,

    Tanta, que se lhe ensangüentam
    Os dedos. Fibra por fibra,
    Toda a sua essência vibra
    Nas cordas que se arrebentam.
    ....

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    1. Pierrot,
      com sua melancolia
      pega da viola,
      e os dedos em sangue
      as cordas esfola.
      O som sai plangente,
      sai agudo, sai langue.
      Dentro dele uma nota
      quase extinta renasce
      em lágrimas na face. HUSEK

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  2. I

    A sala em espelhos brilha
    Com lustres de dez mil velas.
    Miríades de rodelas
    Multicores - maravilha! -

    Torvelhinham no ar que alaga
    O cloretilo e se toma
    Daquele mesclado aroma
    De carnes e de bisnaga.

    E rodam mais que confete,
    Em farândolas quebradas,
    cabeças desassisadas
    Por Colombina ou Pierrete
    Tum, tum,barituntun

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