domingo, 1 de janeiro de 2017

Um brinde..!



Sobre o mar azul
                      profundo e escuro,
um nauta sem embarcação
                  navega na passagem
de um para o outro ano.


Faltam-lhe ainda,
                  remos, bússola, velas,
água potável,
         e uma ilha em que pudesse
por os pés e olhar as estrelas.


Da noite densa sai
                               a madrugada
que se inicia entre fogos
                                   de artifício.


Clamam no horizonte
                   os pássaros perdidos
e luzes coloridas espocam
        prenunciando um novo dia.


Desejos sucumbem-se no ar,
           entre goles de champanhe
abraços e beijos reverberam
                     no branco das saias,
das bermudas e blusas,
                      em que se espraiam
o odor de álcool e de perfumes,
                   nos lábios sangrentos
e nos brincos dourados.


Iemanjá vem do mar
        para apanhar as oferendas,
e de vela em vela
                  alguns pais-de-santos
são tomados em danças
               circulares por espíritos
que descem à terra
                 na oleosidade sensual
dos "cavalos" nus.


Há o vento que balança
        as barracas postas na praia
e filetes de espuma
        quebram-se, um após outro
enquanto ao longe
        barcos fingem acompanhar
a linha do horizonte.


Estes, mal são vistos
                com seus cascos pretos
a balouçar, contendo
         em seu interior as carcaças
dos fogos que por minutos 
                  iluminaram o mundo.


Faço inventário
                    dos meus guardados
acomodando-os em gavetas,
                      algumas com chave
onde selecionei
           os fatos mais importantes.


Horas depois brindo
                                   ao novo ano
com uma taça de esperança
                        e referencio o mar
pela espuma da bebida,
               que nas bordas do copo
vai reduzindo suas bolhas
                   deixando um traçado
tortuoso nas paredes
                                      do cristal.


Semelhante às ondas
                 que desenham na areia
o último suspiro
                     da solidão marítima,
tudo é magia branca
                           em suaves linhas.


A beleza fugidia das moças
                e rapazes diz que a vida
é um sonho de pouca duração,
                                 onde a poesia,
coisa de pseudo intelectual
                                   (sem beleza), 
pouco pode traduzir
                        do poema essencial
da natureza.


Ergo os olhos
   na minha embarcação de vento,
e mastigo o sal das águas
              que me atingiram o rosto.
 

Navego...



Carlos Roberto Husek

2 comentários:

  1. Que bons ventos o conduzam às bem aventuranças...

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  2. Um brinde à 2017! Que ele lhe traga muitas alegrias!
    Tim, tim!

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