terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Balada da Coruja Empalhada
Empalhada,
seca,
coração
sem
batimentos,
sabedoria
sem
fala,
sem
escrita,
sem
gestos,
abúlica,
o olhar
mudo
e frio,
o corpo
incomunicável.
O corpo incomunicável...
Peito
branco,
onde
se escuta
o infinito
oco
a ecoar
silêncios.
O infinito oco a ecoar silêncios...
Sem
sangue,
sem
músculos,
sem
pele,
apenas
fios
sobrepostos,
imitando
asas,
palhas
entrelaçadas
e as penas
lubrificadas
à prova
d`água,
gotas
de tinta
foram
espargidas
sugerindo
a neve
dos
lugares
gelados,
e talvez,
se acumulem
em um
galho
de árvore
invisível,
em que
pousasse
e repousasse
no tempo
os seus
eternos
olhos
de vidro.
Os seus eternos olhos de vidro...
Quieta,
austera,
taciturna,
soberana
da noite,
misteriosa,
falseia
a solenidade
da vida.
Falseia a solenidade da vida...
Muda,
quase
fala,
gera
frases
sem
verbo
e sem
passagem,
que
se perdem
após
o último
chirriar,
e que
a deixam,
subitamente
mumificada.
Subitamente mumificada...
No seu
imaginário,
todos
estamos
empalhados,
e a vida,
é uma
tinta
que
se desfaz
e perde
a cor,
no último
raio
de sol,
na penumbra
da noite,
mantendo
os olhos
abertos,
desertos
de significados.
Desertos de significados...
Solitária,
quando
madrugada,
desfaz-se
de seu
porte
altivo,
e desmaia
nas
pálpebras,
que se
fecham
para
enxergar
na tela
animal
de sua
suposta
vida
anímica,
a razão
de suas
necessidades
de ser
apenas
uma
coruja.
De ser apenas uma coruja...
Escondida
entre
folhas
e galhos
ramificados,
traz
nos
olhos
de vidro
uma
forma
estranha
de vida.
Uma forma estranha de vida...
Sua
cabeça
gira
de
forma
repentina
em
todas
as direções,
e de olhar
parado
visualiza
pela
escuridão
os rastros
de sua
presa,
o andar
incerto
dos
bichos
rastejantes
nas
estradas
abertas
pelos
desenhos
sulcados
de outras
aves
de rapina.
De outras aves de rapina...
Depois
seus
olhos
se petrificam
em uma
única
direção,
para
o horizonte
distante,
e se distanciam
na densa
e escura
floresta,
entre
folhas
amarelecidas
e árvores
tortas.
Folhas amarelecidas e árvores tortas...
Encontro
aqui
e acolá
carcaças,
restos,
pedaços
de suas
asas,
quase
esfarinhadas,
e sinais,
talvez,
de um
último voo,
incerto
e errático,
fiapos
de algum
brilho
antigo.
Fiapos de algum brilho antigo...
Esculápio
de mortos,
disseco
com
religiosidade
seus
antigos
poderes
e ponho
sob o
microscópio
dos
sonhos
suas
células
sem
luz.
Suas células sem luz...
Mero
acaso,
mero
delírio,
mera
ocasião,
que cria
na cabeça
de um
poeta,
bichos
e flores
no cativeiro
de seus
versos,
como
frutos
da imaginação,
no mundo
de experiências
mortas,
do "faz de conta"
de verdades
eternas,
do "faz de conta"
de pequenas
mentiras,
a boiar
na atmosfera
da realidade.
A boiar na atmosfera da realidade...
E o que é
a realidade,
senão
uma coruja
que
embora
empalhada,
transmite
um devaneio,
ficção,
de que
se alimenta
o dia..!
Ficção de que se alimenta o dia..!
Na palha
dos desejos
queima
em fogo
lento
as ilusões
do mundo.
Queima em fogo lento as ilusões do mundo...
Corujamos
nossos
olhos
sobre
os galhos
das
horas.
Sobre os galhos das horas...
Esta
é a vida,
um
imenso
ninho
de palhas
onde
nos
acomodamos
medrosos,
ou um
ramo
em que
fixamos
as garras
e as unhas
pontiagudas,
e apontamos
o bico
curvo,
desencorajados
de
simplesmente
viver.
De simplesmente viver...
Corpo
incomunicável,
infinito
oco
a ecoar
silêncios,
nos eternos
olhos
de vidro,
falseia
a solenidade
subitamente
mumificada,
deserta
de significados,
apenas
uma
coruja,
forma
estranha
de vida,
entre
outras
aves
de rapina,
entre
folhas
amarelecidas
e árvores
tortas,
fiapos
de brilho
antigo,
de células
sem
luz,
a boiar
na realidade,
ficção
do mundo
sobre
o galho
das
horas
para
simplesmente
viver,
simplesmente
viver,
simplesmente
viver,
viver,
viver,
viver...
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Carlos Roberto Husek
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Muito interessante! Gostei!
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