Goiânia
(destacando Cora Coralina, versos grafados de CoraCoralina quem é
você?)
vestido comprido,
vestido
rodado,
na cabeça um pano
vermelho,
cabelos presos,
miúdos
olhos,
que ela quer,
voltados para
as coisas
pequenas,
"...mulher
como
outra qualquer"
que vem "do século
passado"
trazendo
consigo
"todas as
idades",
Cora
Coralina,
Cora coregem,
Cora
vivacidade,
que os
becos,
os bolos,
os solos,
as salas, as horas,
os filhos,
as filhas
que
adora,
que cria,
das
vilas incriadas,
das pedras
irregulares,
dos
gestos,
dos
falares,
dos diálogos
ao pé
do fogo,
dos
cantos,
dos
cantares.
A poesia está no espírito de quem a
escreve e vem, seguramente, de outras eras (tese espírita, reencarnação, Jung e
o inconsciente coletivo, simples antenas ligadas, não comum aos demais?). Os
poetas são iguais, embora fisicamente diferentes. Não há efetiva diferença entre
o português Fernando Pessoa, andando, com seu terno e gravata pelas ruas de
Lisboa, entre Castro Alves, na sombra das Arcadas, entre Vinicius de Moraes, na
mesa de um bar com um copo de uísque e um violão, em Copacabana, entre o
sorumbático Augusto dos Anjos, no seu espírito Santo ("Eu sou aquele que ficou
sozinho/Cantando sobre os ossos do caminho"), entre o sofisticado diplomata
Pablo Neruda, bem como entre o amoroso perseguido Garcia Lorca e Cora Coralina,
a senhora que com seus vestidos e seus bolos, começou a se fazer conhecida
(diamante que sempre lá esteve, no interior de Goiás), a partir de provecta
idade (alguns poetas morrem cedo, fulgurantes, outros nascem depois que se foram
as glórias da mocidade), mas todos são irmãos da mesma família, provindos de um
mesmo espírito unificador, de uma mesma cepa, de uma mesma angústia (toda
poesia, mesmo a mais infantil e romântica, a mais política e social sofre da
doença da angústia, que é o descompasso entre a realidade vivida nas cidades,
nas comunas, nos becos (nos becos de Goiás), e aquele sentimento inexplicável do
mundo. Todo poeta é um universo que sobrevive, desde as coisas pequenas
(formigas) até às estrelas, na grande distância do firmamento. O poeta não tem
idade, não tem sexo. O poeta é. Carlos Roberto Husek.
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