domingo, 18 de dezembro de 2016

Eis-me aqui, Senhor !



Acertar as palavras
           na comunicação do dia
e preservar o sentido
          primitivo, a ideia bruta,
ai, quanto esforço,
                      ai, quanta luta..!

Ser ao mesmo tempo
                       passado e futuro
e retirar da cartola
               dos vocábulos usuais
o claro e o escuro,
                     um pouco menos,
um pouco mais..!

Ter escolhas e nelas
                 empregar a energia
que faz suar as horas,
                           todas da noite,
as horas todas do dia..!

Elevar os olhos aos céus,
    e ver entre nuvens perdidas,
sóis apagados
          por trás de despedidas..!
  
.....................................

Eis-me aqui, Senhor,
                mendigando esmolas,
tão raras e escassas
                  em noites aleatórias.

Recolho-as com cuidado
         e as deposito uma a uma,
em uma vasilha de lata
                  sem beleza alguma.

E saio a andar para outro
       ponto dos ermos obscuros,
e invento versos,
                     tristes e dispersos,
na construção de muros.

E invento frases
              vagas, de tempos idos,
para um falar sem nexo
                  a inocentes ouvidos.

Para não denunciar
           a passantes indiferentes
que cultivo flores arrancadas,
       e desconhecidas sementes.
     
Eis-me aqui, Senhor,
              sob zênites sepulcrais,
a cantar ladainhas mortas
              em íntimas catedrais.



Carlos Roberto Husek

Um comentário:

  1. Maravilhoso, professor! Vivo dizendo esta frase, Eis-me aqui, Senhor. Parabéns!

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