domingo, 9 de abril de 2017

Silencio...



Silencio,
    e cercado por palavras não ditas,
vou conduzindo meu barco
                     em um oceano infinito,
as águas são claras e as ondas
                    desenham-se em suaves
sinuosidades como pintadas
a pena com tinta semitransparente,
tudo tem uma cor indefinida,
                  e do oceano ao horizonte
de um céu sem manchas
                            aparecem gaivotas
e pulam peixes coloridos.
Silencio,
                 neste meu corpo desnudo
eriçam-se os pelos
        à brisa que parece abraçar-me
na cintura e no pescoço,
        tenho saudade do que não vivi
e me aconchego entre travesseiros
                             à espera da morte,
que a morte vem vagarosa,
    com ar doce, os olhos lacrimosos,
passos miúdos, entre flores,
                         cheirando a lavanda,
vestes fluídicas,
                         com jeito de menina,
braços abertos,
     lábios a sorrir um sorriso amigo,
e a dizer: somos um.
Silencio,
           e a vida corre em debandada,
corre louca, corrida em desespero,
               para nada e lugar nenhum,
ginete enfurecido,
                a crina pontiaguda e solta,
relincha e no galope em disparada,
                                             fica no ar
por milésimos de segundos,
                  e tem de si uns momentos
de inspiração e de abandono,
             a vida é assim, uma carreira
desabalada e alienada
                       rumo ao desconhecido,
marcada por passagens,
                                 trotes e marchas,
de morte, de amor
                              e de esquecimento.
Silencio,
               e me vejo em diálogo mudo,
em diálogo surdo,
                                  em diálogo cego,
singrando mares internos
             liberto de regras e aforismas,
como se estivesse nesse palco
                 pela primeira e última vez,
sobre este barco e este ginete,
                            e dentro deste corpo
em decomposição,
                               do menino que fui
do adulto que sou
                             e do que me espera,
reconstruo-me em meus guardados,
                                      reconstruo-me
em minhas campinas e prados
        reconstruo-me em meus oceanos
e em meus rochedos,
                                      reconstruo-me
nas minhas avenidas e becos,
                          e assim me apresento,
sem plateia e sem disputas,
                          correndo contra mim,
em corrida sem fim,
                     em minha próprias lutas,
velejando nas águas que crio,
                               vencedor e vencido
na escrita que escrevo,
                       do meu próprio desafio.



Carlos Roberto Husek







2 comentários:

  1. Esse poema fala....
    Canção do dia de sempre

    Tão bom viver dia a dia...
    A vida assim, jamais cansa...

    Viver tão só de momentos
    Como estas nuvens no céu...

    E só ganhar, toda a vida,
    Inexperiência... esperança...

    E a rosa louca dos ventos
    Presa à copa do chapéu.

    Nunca dês um nome a um rio:
    Sempre é outro rio a passar.

    Nada jamais continua,
    Tudo vai recomeçar!

    E sem nenhuma lembrança
    Das outras vezes perdidas,
    Atiro a rosa do sonho
    Nas tuas mãos distraídas...
    Mario Quintana

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  2. Para pessoas que se amam o som ensurdecedor do silêncio traduz a tristeza, a incerteza da separação e a alegria do reencontro. Em silêncio os braços se abrem e os corpos se tocam refletindo a necessidade de caminhar juntos, sempre juntos, como crianças e adultos, enfrentando os desafios, as regras e o teatro da vida, rumo ao desconhecido.uil

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